O bairro era uma morraria só.
Morros e mais morros recheados de ruas estreitas, casas feias e pequenas, mas honestas.
Jardins floridos aqui e ali ajudavam a dar certa dignidade ao ambiente geral de uma classe média baixa que tinha como modelo de persistência a família Prado.
José Prado só não era totalmente feliz porque remexeram as letras de seu sobrenome e acabou tornando-se Padreco.
Ele se intrigava com a capacidade inventiva dos brasileiros de avacalhar com as coisas e com a honra das pessoas.
Talvez pudesse ser mesmo um padre.
Tinha a estampa típica de padres.
Se lhe colocassem uma batina preta combinando com sua cara séria ganharia respeito dos fiéis da paróquia do bairro, mesmo sabendo que os padres não usam mais a saia chamada batida, substituída por roupas também pretas como as asas da graúna.
Sua estampa não ajudava muito na sua luta para vender bijouterias.
Pessoa séria, de cara e de vida sérias, muitas vezes tratado com a absurda grosseria das pessoas do bairro como se fosse um camelô igual aos que aborreciam pedestres na avenida principal da cidade. Sério mas apreciador do perigoso sexo com mulheres casadas.
Solteiras lhe davam certo tédio, embora a prática com elas fosse também benvinda.
Só que as casadas possibilitavam-lhe o sublime ar de perigo das escapadas furtivas no meio da tarde, óculos escuros e inevitáveis lenços cobrindo a cabeça próprios de senhoras responsáveis pelos seus deveres e honras familiares.
Podia parecer abuso do destino mas seus arrôjos eram próprios do pároco de sua cidade natal, acusado de ser pai de crianças pertencentes a diversas classes sociais.
Padreco recordava que em situações mais complicadas, a batina do padre o salvava encobrindo o endurecimento do seu macho membro, embora restasse para quem o pegasse em flagrante delito clerical que algo de errado além da conta estivesse acontecendo.
Eram muito amigos fora do confissionário, embora Padreco e o padre propriamente dito não escancarassem um para o outro as semvergonhices que cometiam.
A certa altura da vida, Padreco tomou consciência de que precisava se casar, se possível com uma moça simples e de caráter ilibado.
Aproveitou da anual barraquinha de junho - que todo ano o padre do bairro aproveitava para amealhar um dinheirinho além das moedas e notas recolhidas durante a santa missa de domingo – para encontrar uma senhorinha bela e comportada para se casar.
Na safra daquele ano estava difícil encontrar a mocinha de seus sonhos, mas no penúltimo dia da quermesse encontrou a figura ideal que procurava.
Ela também residia em uma rua do morro onde Padreco morava, linda e encantadora como uma artista que Hollywood tivesse perdido a oportunidade para contratá-la.
No dia seguinte comprou um anel de esmeralda na loja da rua onde ele buscava material para suas vendas.
Isabel, a moça, quase desmaiou de emoção quando recebeu o anel na segunda noite de encontro com Padreco.
A família dela não entendeu nada mas no fundo achou ótimo a moça ter encontrado um par entusiasmado em se casar rapidamente com a filha.
Parecia conto de Cinderela.
O único problema da convivência dos dois nos anos que se seguiram era a língua do pessoal do bairro dizer que ela era “mulher do padre”, embora “Padreco” não passasse de João do Prado.
A marca ficou mas parece que algum anjo torto abençou o casal tal a felicidade em que viveram para sempre entre os morros e naquele clima de final feliz dos velhos filmes de Hollywood.
Morros e mais morros recheados de ruas estreitas, casas feias e pequenas, mas honestas.
Jardins floridos aqui e ali ajudavam a dar certa dignidade ao ambiente geral de uma classe média baixa que tinha como modelo de persistência a família Prado.
José Prado só não era totalmente feliz porque remexeram as letras de seu sobrenome e acabou tornando-se Padreco.
Ele se intrigava com a capacidade inventiva dos brasileiros de avacalhar com as coisas e com a honra das pessoas.
Talvez pudesse ser mesmo um padre.
Tinha a estampa típica de padres.
Se lhe colocassem uma batina preta combinando com sua cara séria ganharia respeito dos fiéis da paróquia do bairro, mesmo sabendo que os padres não usam mais a saia chamada batida, substituída por roupas também pretas como as asas da graúna.
Sua estampa não ajudava muito na sua luta para vender bijouterias.
Pessoa séria, de cara e de vida sérias, muitas vezes tratado com a absurda grosseria das pessoas do bairro como se fosse um camelô igual aos que aborreciam pedestres na avenida principal da cidade. Sério mas apreciador do perigoso sexo com mulheres casadas.
Solteiras lhe davam certo tédio, embora a prática com elas fosse também benvinda.
Só que as casadas possibilitavam-lhe o sublime ar de perigo das escapadas furtivas no meio da tarde, óculos escuros e inevitáveis lenços cobrindo a cabeça próprios de senhoras responsáveis pelos seus deveres e honras familiares.
Podia parecer abuso do destino mas seus arrôjos eram próprios do pároco de sua cidade natal, acusado de ser pai de crianças pertencentes a diversas classes sociais.
Padreco recordava que em situações mais complicadas, a batina do padre o salvava encobrindo o endurecimento do seu macho membro, embora restasse para quem o pegasse em flagrante delito clerical que algo de errado além da conta estivesse acontecendo.
Eram muito amigos fora do confissionário, embora Padreco e o padre propriamente dito não escancarassem um para o outro as semvergonhices que cometiam.
A certa altura da vida, Padreco tomou consciência de que precisava se casar, se possível com uma moça simples e de caráter ilibado.
Aproveitou da anual barraquinha de junho - que todo ano o padre do bairro aproveitava para amealhar um dinheirinho além das moedas e notas recolhidas durante a santa missa de domingo – para encontrar uma senhorinha bela e comportada para se casar.
Na safra daquele ano estava difícil encontrar a mocinha de seus sonhos, mas no penúltimo dia da quermesse encontrou a figura ideal que procurava.
Ela também residia em uma rua do morro onde Padreco morava, linda e encantadora como uma artista que Hollywood tivesse perdido a oportunidade para contratá-la.
No dia seguinte comprou um anel de esmeralda na loja da rua onde ele buscava material para suas vendas.
Isabel, a moça, quase desmaiou de emoção quando recebeu o anel na segunda noite de encontro com Padreco.
A família dela não entendeu nada mas no fundo achou ótimo a moça ter encontrado um par entusiasmado em se casar rapidamente com a filha.
Parecia conto de Cinderela.
O único problema da convivência dos dois nos anos que se seguiram era a língua do pessoal do bairro dizer que ela era “mulher do padre”, embora “Padreco” não passasse de João do Prado.
A marca ficou mas parece que algum anjo torto abençou o casal tal a felicidade em que viveram para sempre entre os morros e naquele clima de final feliz dos velhos filmes de Hollywood.
Mário Ribeiro