Narrativa Sem Fim – Arthur Lopes

E pela fenda do universo penetrou a minha narrativa sem fim, como um parafuso de rosca soberba.

Soberba narrativa, sem qualquer humildade:

Como uma ninfa que procura seduzir cada Passante da floresta e seduz.

Como uma sereia que procura seduzir cada ouvinte de seu canto e seduz.

Como o poeta que procura seduzir cada Musa com versos pungentes e seduz.

Como a musa que procura seduzir o poeta com sua beleza que arranca versos e seduz.

Como a prostituta que procura seduzir o bêbado do fim da noite e seduz.

Como o bêbado do fim da noite que procura seduzir a prostituta para ter um recanto e seduz.

Soberba narrativa, sem qualquer humildade.

Em parafuso pela fenda do universo.

De onde saem os unicórnios de chifre dourado para encantar a quantos têm a ventura de encontrá-los.

De onde saem os desejos do mundo capazes de levarem à perdição o mais empedernido e casto eremita.

De onde saem fadas virgens e puras para procurar os pecados e com eles se deliciarem.

Soberba narrativa, sem qualquer humildade.

Envoltória, elipsóide, espiral sem equação.

Sem principio, aética, despudorada.

Falida no nascedouro, pungente ao desaguar na planície sem temperança.

Como o bêbado do fim da noite e a prostituta triste.

Mas soberba como a ninfa e a sereia, o poeta e a musa.

Vibrante como as fadas virgens ao encontrarem o pecado.

O unicórnio a encantar a quantos encontrar.

Mas casta e empedernida como o eremita antes de encontrar o desejo. Mas tola, singularmente tola, como um amontoado de palavras vazias.


Arthur Lopes