Tinha um nome incomum para a sua época. Chamava-se Graciana. A única homônima conhecida que tinha, para seu desespero, era a filha do General. Stroessner, ditador paraguaio.
Por sorte ganhou o apelido de Gracinha, como era costume no interior, em São Domingos do Prata. Gracinha de Sinhá Coura.
Depois de formada normalista e já trabalhando em São Miguel de Piracicaba, comprou a parte da mãe.
Passou a ser somente Gracinha para os íntimos e familiares. Na sala de aula, sempre foi a Dona Graciana.
Fazia questão do nome completo em certas ocasiões: Graciana Coura de Miranda.
Com o casamento, não adotou o nome do marido, outra coisa incomum na época.
O marido, homem de boa visão, que infelizmente foi vitimado pela cegueira aos quarenta e um anos.
Não colocou obstáculos: se o nome fosse mudado, a burocracia iria acarretar um atraso de seis meses no salário da professora. Coisas da centralização administrativa que sempre emperrou o Brasil.
Foi melhor assim.
Depois de normalista, estudou mais, mas isso fica para depois.
Vamos aos fatos que motivaram o título.
Nos anos cinquenta, já especializada em Administração Escolar no Instituto de Educação em Belo Horizonte, tornou-se professora de Curso Normal,
D. Graciana resolveu criar em Itaúna/MG, uma escola para crianças de quatro a seis anos. Escola estadual, na época chamada de Jardim de Infância.
Com o apoio do prefeito da cidade e dos líderes políticos locais, eis que surge na cidade, o Jardim de Infância "Ana Cintra". Se não a primeira, uma das primeiras escolas dedicadas ao ensino pré-escolar no interior do Estado.
Como tudo que fazia, foi um sucesso.
Excetuando o berreiro das crianças nos primeiros dias, a escola progrediu, mudou de prédio e iniciou na vida escolar uma geração de moleques itaunenses.
D. Graciana, sempre orgulhosa de sua obra, além das classes anexas do Colégio Oficial, a antiga Escola Normal, tinha também o Jardim de Infância para as alunas de Pedagogia aprenderem a dar aulas. Uma beleza.
Na volta das férias, sempre um ritual: a molecadinha perfilada no pátio a receber as boas vindas da Diretora:
- Bom dia crianças, como passaram de férias?
Por sorte ganhou o apelido de Gracinha, como era costume no interior, em São Domingos do Prata. Gracinha de Sinhá Coura.
Depois de formada normalista e já trabalhando em São Miguel de Piracicaba, comprou a parte da mãe.
Passou a ser somente Gracinha para os íntimos e familiares. Na sala de aula, sempre foi a Dona Graciana.
Fazia questão do nome completo em certas ocasiões: Graciana Coura de Miranda.
Com o casamento, não adotou o nome do marido, outra coisa incomum na época.
O marido, homem de boa visão, que infelizmente foi vitimado pela cegueira aos quarenta e um anos.
Não colocou obstáculos: se o nome fosse mudado, a burocracia iria acarretar um atraso de seis meses no salário da professora. Coisas da centralização administrativa que sempre emperrou o Brasil.
Foi melhor assim.
Depois de normalista, estudou mais, mas isso fica para depois.
Vamos aos fatos que motivaram o título.
Nos anos cinquenta, já especializada em Administração Escolar no Instituto de Educação em Belo Horizonte, tornou-se professora de Curso Normal,
D. Graciana resolveu criar em Itaúna/MG, uma escola para crianças de quatro a seis anos. Escola estadual, na época chamada de Jardim de Infância.
Com o apoio do prefeito da cidade e dos líderes políticos locais, eis que surge na cidade, o Jardim de Infância "Ana Cintra". Se não a primeira, uma das primeiras escolas dedicadas ao ensino pré-escolar no interior do Estado.
Como tudo que fazia, foi um sucesso.
Excetuando o berreiro das crianças nos primeiros dias, a escola progrediu, mudou de prédio e iniciou na vida escolar uma geração de moleques itaunenses.
D. Graciana, sempre orgulhosa de sua obra, além das classes anexas do Colégio Oficial, a antiga Escola Normal, tinha também o Jardim de Infância para as alunas de Pedagogia aprenderem a dar aulas. Uma beleza.
Na volta das férias, sempre um ritual: a molecadinha perfilada no pátio a receber as boas vindas da Diretora:
- Bom dia crianças, como passaram de férias?
- Passaram bem?
A resposta em uníssono:
- Passaram.
E lá vinha a corrigenda:
- Não é passaram. É passamos.
Feita a cerimônia, cada professora se apresentava à sua classe e levava seus alunos para a sala.
Como nem tudo na vida é igual, eis que por volta do segundo semestre de 1959, logo depois dos cumprimentos e das boas vindas, um magote de crianças interpela a Diretora:
- D. Graciana, achamos um gatinho perdido no canto da caixa de areia. Podemos ficar com ele na escola?
D. Graciana, apesar de nunca ter sido muito amiga dos felinos, assentiu ao pedido e ponderou:
- Vocês podem ficar com ele se prometeram deixá-lo no pátio, tratar dele na hora do recreio e não levá-lo para sala de aula. Depois precisamos arrumar uma casa para ele morar. Alguém que queira pode ficar com ele pois na escola ele não pode ficar. Combinado?
A criançada feliz da vida respondeu que sim. No entanto, surgiu logo uma dúvida: precisamos arranjar um nome para ele. Graciana de pronto respondeu:
- Não é passaram. É passamos.
Feita a cerimônia, cada professora se apresentava à sua classe e levava seus alunos para a sala.
Como nem tudo na vida é igual, eis que por volta do segundo semestre de 1959, logo depois dos cumprimentos e das boas vindas, um magote de crianças interpela a Diretora:
- D. Graciana, achamos um gatinho perdido no canto da caixa de areia. Podemos ficar com ele na escola?
D. Graciana, apesar de nunca ter sido muito amiga dos felinos, assentiu ao pedido e ponderou:
- Vocês podem ficar com ele se prometeram deixá-lo no pátio, tratar dele na hora do recreio e não levá-lo para sala de aula. Depois precisamos arrumar uma casa para ele morar. Alguém que queira pode ficar com ele pois na escola ele não pode ficar. Combinado?
A criançada feliz da vida respondeu que sim. No entanto, surgiu logo uma dúvida: precisamos arranjar um nome para ele. Graciana de pronto respondeu:
- Vocês decidam.
Outra dúvida e esta a pior para a Diretora:
- D. Graciana, ele é menino ou menina?
Como responder? Sexo para ela era assunto tabu. Pensou rápido e não titubeou:
- Muito simples: na hora do recreio as professoras organizam uma votação e vocês decidem. Se ganhar menino ele é menino, se não, será menina.
E assim o gênero do gatinho foi resolvido democraticamente.
Urtigão (desde1943)
Outra dúvida e esta a pior para a Diretora:
- D. Graciana, ele é menino ou menina?
Como responder? Sexo para ela era assunto tabu. Pensou rápido e não titubeou:
- Muito simples: na hora do recreio as professoras organizam uma votação e vocês decidem. Se ganhar menino ele é menino, se não, será menina.
E assim o gênero do gatinho foi resolvido democraticamente.
Urtigão (desde1943)