São Domingos do Prata, MG |
Estou juntando fatos a respeito de meus pais, mais precisamente de minha mãe. Pretendo escrever uma biografia da velha, antes que a "Dona da Foice" me visite. Ela já me rondou algumas vezes e fui devolvido ao destinatário. Vai ver que numa hora dessas a danada acerta e lá vou eu conversar com o "Coisa Ruim.
Voltei bem triste. O Brasil de minha infância, adolescência, juventude e até de meus anos mais maduros desapareceu. Fiz o pouso principal em São Domingos do Prata, cidade pequena, encravada no final da Zona Metalúrgica, Zona da Mata e Vale do Aço. De lá andei por Rio Piracicaba, Alvinópolis, Dom Silvério e Nova Era.
Cidades insignificantes. Mineração, metalurgia, agricultura de sobrevivência, pecuária idem. São Domingos do Prata nunca teve estrada de ferro. Ficou na promessa. Tem cortes, aterros, túneis e outras obras de um ramal que ligaria a antiga Leopoldina Railway que ia até Dom Silvério, passando por lá, indo a Alvinopolis e ligando a Central do Brasil em Nova Era. Seria o encontro de três ferrovias: Leopoldina, Central e Vitória Minas. Tudo isso pertence ao passado. As obras datam do final dos anos quarenta e início de cinquenta. Nunca foram concluídas. Enriqueceram empreiteiros e deixaram cidades fantasmas.
Voltemos ao tema do título. Minha irmã mora na rua principal da cidade, desde os tempos em que a cidade só tinha uma rua. A poucos metros da praça da matriz, hoje substituída por outra de concreto. Bem cuidada a praça. Na rua principal, em frente à casa de minha irmã, várias lojas. Nomes muito criativos. Anotei alguns. Lá vão eles: "Código III Código, III Kids, Tumat Store, May's Lunchs, Selo do Corpo, Farmácia São José-Drugstore, Loterias Gud Luke, Pizaria Deliveri e assim por diante. Nada de "A Barateira, Casa do Povo, Loja Para Todos, Armazém Fartura, Açougue São João e Padaria Santa Rosa. A padaria, se bem me lembro, tem o nome de Trigo do Pão. Como se pudesse ser Trigo da Broa!
O único sinal da antiga cidade sobrevive no Hotel Semião, homônimo de um que tinha em Ponte Nova. Os donos eram primos. Bares da minha juventude, com mesa de sinuca, boa pinga e picolé, eu não vi. Butecos, muito poucos. A tal May's Lunchs vende paletas mexicanas.
Que saudade dos picolés de groselha. O povo cada vez mais standard. Modelo Rede Globo Rio Zona Norte. Mulheres com shorts "tipo abajur de perseguida”, cabelo de chapinha e tênis de marca feito na China ou Nova Serrana. Os homens de bermudão "cargo camuflado", tênis modelo jogador de basquete e carro "tunado" com som retumbante. Carro popular mesmo. O equipamento de som vale mais do que o veículo. O desemprego corre solto. A economia de toda a região segue um modelo falido, igual ao cinturão da ferrugem dos USA. As prefeituras de alcaides novos, falam em enxugar a máquina. Todas elas têm secretarias de turismo, esportes, bem estar social, terceira idade, juventude, recursos hídricos e tudo mais que a inventividade dos homens públicos possam criar para dar emprego a parentes e amigos. E maldizem o Presidente Temer.
No tempo do Lula era melhor! Até quando?
Notas:
1) Eu tinha cinco anos quando saímos de Belo Horizonte e fomos para Alvinópolis. Foi nesse tempo que a tal estrada de ferro do texto acima estava sendo construída. Lembro-me que um dos engenheiros da obra alugou uma casa ao lado da nossa no Largo São Sabastião. Lá ele instalou uma bela concubina. Mulher de fazer inveja. Botava short em 1949. Servia somente ao "doutor" . Eu e meus irmãos mais velhos subíamos numa mangueira para vê-la tomando sol de maillot. Coisa de cinema. Igual somente nas sessões que assistíamos no Cine São José, do Sebastião Eliseu, em frente à venda do meu pai. A bela morena era carioca e não se importava com a plateia infantil. Acho que até gostava.
2) As estradas de ferro foram banidas do Brasil por obra e graça do "grande mineiro" Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Afinal, ele implantou no Brasil a indústria automobilística e desde o seu governo ou desgoverno, o País passou a andar sobre pneus. Chegou até a enviar aoCongresso um decreto proibindo a construção de estradas de ferro em Pindorama.
Um espanto!!!!
3) Como se não bastasse a Dengue, a Zika, a Chikungunha, a Malária, o Mal de Chagas e outros que mais, eis que retorna a Febre Amarela.
Em Minas, o governador narigudo e terrorista concedeu entrevista depois de se avistar com o prefeito Kalil. Alertou sobre a possibilidade de rebeliões e morticínios em presídios mineiros. Nada de novo. A Rede Globo mostra pela Globo News um especial no qual elogia o sistema prisional de Minas e do Espírito Santo. Não é o inferno de Dante mas, também não é o Compaj de Manaus.
Se eu fosse o Pimentel, apostava todas as fichas na melhoria das cadeias. Afinal, ele poderá ser hóspede de uma delas brevemente.
Urtigão (desde 1943)