Urtigão, o que é Legal e o que é Imoral

Sobral Pinto - 5/11/1893 - 30/11/1991
O último artigo do jornalista Augusto Nunes em sua coluna no site da revista Veja trata da diferença fundamental existente entre o jurista mineiro Heráclito Fontoura Sobral Pinto, um dos baluartes do direito no Brasil, e Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça do governo Lula, criminalista de nomeada, conhecido entre seus pares, como "GOD".

Sobral Pinto, morreu a quase um centenário, pobre e admirado por todo o País, cultuado como um defensor inconteste de direitos humanos, em uma época em que tal causa não era bandeira de ninguém e não monopolizava ONGs.

Católico sem ser carola, não declinou da causa de defender Luiz Carlos Prestes, preso pela ditadura de Vargas e encarcerado em condições humilhantes. Prestes era comunista e como todo bom comunista, era ateu.

Isso não importava a Sobral. Como naquela época sombria, não existia Anistia Internacional, Declaração dos Direitos do Homem e tampouco Human Right Wacht, o grande jurista de Barbacena, que invocou em favor de seu cliente, defendido por ele gratuitamente, a Lei de Proteção aos Animais. 

Obteve êxito. Não tinha simpatia por Prestes e muito menos pela causa comunista. Era um defensor da legalidade e por ela sempre lutou.

Nos anos da Ditadura Militar, Sobral Pinto despontou novamente como grande defensor de presos políticos .

Enfrentou desafios sem conta. Não cobrava honorários de quem não podia pagar. De quem podia, cobrava pouco. O bastante para viver com dignidade.

Marcio Thomaz Bastos, ou MTB para os admiradores, era o contrário. Conta-se que uma cliente, agradecida por tê-lo como defensor e, mais ainda, por ter ganho a causa, disse ao janota moderno:

- "Dr. Márcio, não sei como agradecê-lo? Ao que ele retrucou prontamente: 

- “Cara Senhora: desde que os fenícios inventaram o dinheiro, a melhor forma de agradecer e pagando com moeda!"

Não se ofendeu e tampouco se corou ao se sentar em uma CPI no Congresso Nacional, recém saído da função de Ministro da Justiça, ao lado do "corretor zoológico Carlinhos Cachoeira" para defendê-lo. Afinal, estava cobrando quinze milhões de reais!

Bem diferente do velho Sobral Pinto que ao saber que seu cliente era culpado, somente aceitava a causa se acreditasse que o indivíduo não era um delinquente contumaz e que tinha cometido o crime e ele, Sobral, pudesse ver no fato atenuantes que minorassem a pena. Sobral vestia-se mal. Era feioso e mal ajeitado. 

MTB também era feioso. Vestia-se como um "dândi" moderno. Tinha, dizem, mais de duzentas gravatas. Camisas e ternos muito bem cortados. Impressionava pelo rigor da fatiota. Vivia bem. Cultor do físico e da ginástica.

Sobral mais parecia o Grilo Falante de Walt Disney. Morreu com noventa e oito anos. MTB, morreu subitamente, acometido por um câncer. Deixou uma fortuna de quase quatrocentos milhões de reais. Heráclito Fontoura Sobral Pinto morreu pobre e de bem com o vida.

Em tempo: nem sempre o que é legal é moral.

Disse tudo o que está acima para afirmar ao senhor Fernando Damata Pimentel que apesar de ser legal usar o helicóptero do governo de Minas para buscar seu filho em Escarpas do Lago pode estar na lei. No entanto é imoral. Se o rapaz estava de ressaca, nada que uma boa ducha, um engrossado de fubá e uma aspirina não curasse. Se não desse certo, um bom vomitório. E bolsa de gelo na cabeça.

Notas:

1) Dizem as más línguas que a tal lei de deslocamento de aeronaves do Estado para apanhar o Governador onde ele estiver a qualquer hora ou seus familiares é da lavra de Aécio Neves. Se é de 2005, realmente pertence ao moço que na época era solteiro. Andam dizendo outras coisas, mas os celulares daquela época não eram tão bons quanto os de agora e não existiam gravações.

Uma coisa todos concordam: a lei é uma merda. Não bastava fazer aeroporto em Cláudio. Precisava liberar aviões?

2) Enquanto isso a Codemig subsidia vôos para todo Estado. Para Patos de Minas, Paracatu, Teófilo Otoni, para Unai ainda vai. Mas para Divinópolis, uma viagem de cento poucos quilômetros é pedir demais. Média de ocupação dos vôos para a Princesa do Oeste: 9%. Alem disso o bilhete não é barato.

E Minas está em estado de calamidade econômica!

3) O presidente da Codemig se defende: a empresa é autônoma, não depende do Estado e vai pagar dividendos de oitenta milhões .

Ele, ex-executivo da Manesmann e da Usiminas, homem de confiança do Pimentel, é responsável por um programa de economia criativa em Minas.

Se bem me lembro, a Codemig bancou duas feiras em 2016. Uma de criação audio-visual na Souza Pinto e outra de Informática no Expominas.

Uma sugestão: já que a Codemig é dona do Minascentro, do Expominas e o Estado, via Fundação Clovis Salgado, e dona da Souza Pinto, porque não baixa os preços cobrados nos locais de eventos e tenta incentivar os promotores locais?

Sugerir não ofende. E não gasta helicóptero.


Urtigão (desde 1943)