Ele só Pensa Naquilo - Correspondente Internacional

- O que você acha do Trump?

Esta é a pergunta que vem logo após o primeiro gole de cerveja. Queira ou não... Sentou, tomou uma cerveja e a pergunta aparece. Do nada. Ou melhor, do fundo…

Meses atrás a pergunta padrão “após primeiro gole” era sobre o clima. Sobre a alta da bolsa de valores. Sobre a esposa e filhos. A partir de Janeiro de 2017 conversa vai, conversa vem e todos os caminhos levam a “nova Roma”. Levam ao Rei do Twitter. Ao Sr. dos códigos dos mísseis atômicos americanos. Ao 1o Presidente Branco-Laranja dos EUA. Levam ao Sr. Donald John Trump.

Não acho que a questão seja responder o que achamos sobre Mr. Trump. Muito pelo contrário. Acho que o problema é que só ouvimos a mesma pergunta. O mundo deixou de pensar. Deixou de falar sobre musica. Sobre inovações tecnológicas. Sobre novos medicamentos ou sobre soluções sustentáveis para o planeta. Como dizia “Dona Bela” durante suas cenas na "Escolinha do Prof. Raimundo" uma das infinitas criações do genial Chico Anysio... “Ele só pensa naquilo”.

Eu tenho visto a comoção mundial em torno do Trump e fico pensando se na verdade não foi isso que ele idealizou anos atrás. Será que na verdade Trump não planejou colocar sua imagem em escala mundial e no centro das atenção do planeta? Será que não estamos vivendo dentro de um show de TV onde ele é o escritor / ator / vencedor / presidente e ainda não percebemos?


Diferentemente do que muitos pensam, Trump não começou a sonhar em ser presidente durante as primárias republicanas de 2015. Donald mostrou publicamente sua pretensão de ser presidente ainda em 1987. Pouco antes das eleições de 1988, a que George Bush “Pai” ganhou pela primeira vez. 

No final da década de 80 Donald já era candidato a candidato a presidente. A aventura não foi pra frente em 1988 devido algumas “dificuldades” financeiras temporárias. Trump estava um pouco “enrolado’ com os investimentos realizados em Las Vega . Tinha comprado o casino Taj Mahal e a divida estava alta…. Nada que um bom advogado e um super “Tax Deduction” não resolvesse. Foi o que o New York Times descobriu durante a campanha de 2016. Esta continua sendo a única informação que temos sobre seu imposto de renda. 
https://www.nytimes.com/2016/10/02/us/politics/donald-trump-taxes.html

Mesmo pendendo a oportunidade em 1988 Trump não parou de ser lembrado como possível candidato. Homem de sucesso e exemplo de milionário, ele deixava claro que a ideia estava viva. Em uma entrevista para Bruna Lombardi no programa “Gente de Expressão” da Rede Manchete no ano de 1992, ele mostra sua determinação em ser o centro das atenções e porque não presidente. Veja parte da entrevista abaixo.



Durante a virada do milênio e o final do segundo mandato de Bill Clinton, Trump voltou a falar em ser presidente. Entrou oficialmente na disputa em 1999. Deixou de lado sua filiação no Partido Republicano e encontrou no partido do milionário Ross Perot - Partido Reformista uma oportunidade de vencer as primárias. 

Teve como principal adversário o ex-diretor de comunicação da gestão Regan “Pat” Buchanan. Fez campanha em vários estados. Publicou um livro “The America We Deserve” para ajudar no marketing. Apesar de boa aceitação por uma parte dos eleitores e de até ganhar as primárias “Reformista” na California e em Michigan, “Pat” foi nominado pelo Partido como candidato. Dizem que Trump perdeu devido sua 3a mulher (atual Primeira Dama). Ele estava terminando o casamento com Ivanna e a nova "namorada" não agradava o setor conservador americano.

Não foi só Trump que perdeu em 2000. Todos nós perdemos com a famosa eleição de Bush. A eleição foi praticamente definida pelos votos da Florida. Para ser mais preciso, pelos votos do "Palm Beach County". Onde milhares de velhinhos votaram “errado” em George W. Bush pensando que estavam votando para o candidato Democrata e Vice-Presidente de Clinton, Al Gore. Com a mais apertada diferença da história e menos de 0.01% de diferença de votos na Florida, "Bush Filho” ganhou e o mundo perdeu.

Com Bush e Dick Cheney “procurando” Bin Laden no país errado e “destruindo” regimes sem pensar nas consequências de longo prazo durante os 8 anos de mandato. Conseguir aparecer não era fácil. Trump teve que se virar para manter presente. Criou então o reality show “The Apprentice”. De 2004 até 2014 Trump comandou as “disputas” que a cada temporada “criava” um maravilhoso ou maravilhosa vencedor(a). Como prêmio principal o vencedor tinha garantia de um ano trabalhando como executivo(a) em uma das empresas do grupo empresarial de Trump.


Foi uma imensa fonte de publicidade e visibilidade para Trump. Ele aproveitou o sucesso e abandonou o Partido Reformista. Entrou para o partido Democrata e esteve do lado “azul” até o ano de 2009. Em 2011 se o perguntassem, ele diria que era independente. Em 2012 realizou sua volta triunfante para as origens republicanas e se consolidou como um dos principais críticos da 2a administração Obama.

A pressão de Donald sobre a administração Obama continuou grande nos próximos anos e aumentou ainda mais com a chegada da campanha de 2015. Coincidência? Eu não acredito em coincidências.

Desde a vitoria de Barack Obama em 2008, vivemos a necessidade e o imediato interesse de conhecer mais sobre o novo presidente. Era o 1o Presidente Negro da história americana. E mesmo com todos os holofotes voltados para Obama me lembro que as perguntas eram mais ligadas ao seu passado. Como tinha sido a sua infância, sua juventude. Se ele era mesmo um bom jogador de basquete no High School e College. Ou se era verdade que quem mandava mesmo era a Michele.

Os anos entre 2008 e 2012 foram especialmente difíceis nos EUA. A famosa “marolinha” era coisa séria em cada esquina de Nova York e na maioria das cidades americanas. A perda da capacidade de investimento foi real e o aumento do desemprego devido ao colapso do mercado de imóveis levou a sociedade a ter que se unir em torno de uma virada econômica.

Obama ajudou flexibilizando a matrix energética do pais. Lutou para diminuir a dependência do petróleo do Oriente Médio. O preço médio do petróleo e consequentemente da gasolina nos postos americanos chegou a ficar abaixo de $2.50 em vários momentos. 

Devido a crise de credibilidade das instituições financeiras Obama aproveitou a curta maioria no congresso e no senado para aprovar a famosa mudança do sistema de saúde “Obama Care”. Ele tentou elevar as discussões sobre mudança climática e buscava regular o mercado financeiro com o objetivo de proteger a população e evitar uma nova "bolha" como a de 2008. É indiscutível que lutou pela melhorias das condições da população de baixa renda, desenvolveu novos programas sociais e procurou soluções para o gigantesco numero de dependentes de drogas e da maior e ainda crescente população carceraria no país.

Nas eleições de meio termo em 2010 os Democratas perderam a maioria no senado. O fato traria dificuldades para Barak aprovar novos programas. Com o sucesso da operação de eliminar o “inconveniente” Bin Laden e “enterra-lo” no mar em Maio de 2011 e o inicio da recuperação econômica. Ficou claro para os Republicanos que se eles não fizessem algo drástico o “Obamão da Massa” poderia virar ícone mundial e imortalizado na história americana. Os Republicanos decidiram bloquear qualquer coisa que viesse da Casa Branca. 

Apesar do bloqueio no senado e congresso a recuperação da economia continuou. Hoje vemos um país bem melhor do que em 2008. Além disso, durante os anos ficamos sabendo aos poucos das virtudes e defeitos do 1o presidente negro dos EUA. Sim, ele é realmente bom no basquete. As filhas são estudiosas e educadas. A mulher manda nele (como todos os outros homens normais) e mesmo com os diversos fatos positivos e negativos geopolíticos que aconteceram e acontecem durante a gestão de qualquer presidente, a população e a imprensa tiveram paciência e respeito para aos poucos "descobrir" melhor sobre o presidente.

Obama já faz parte da história e agora vivenciamos a nova era Donald. Nesta nova etapa não existe calma. Imediatismo é a palavra de ordem. Decisões rápidas. Urgentes. Maravilhosas. Washington vive de superlativos e pouca profundidade. Convulsão de emoções e proibições. Deportação e construção de muros. Disputas judiciais já iniciaram. A velocidade das ações exigem reações rápidas. O mundo vive freneticamente e tenta compreender quem é este presidente. Quer compreender o que ele é e quem ele representa. A grande maioria está perdida.

Perguntam. Ele é inteligente? Ele é rancoroso? Ele é vingativo? Mesmo os seus eleitores parecem não saber muito sobre a personalidade de Donald. Tudo pode acontecer. Tudo pode mudar na próxima hora. Trump "surfa" muito bem e sabe usar e abusar da geração SnapChat. Enviar Twitter pela manhã faz parte de sua agenda oficial. Ele tem reuniões sobre qual noticia vai “criar”. Não estou brincando! Realmente Donald tem um horário na agenda oficial para consultar com sua equipe e decidir qual será o tópico do dia na sua conta do Twitter.

O seu primeiro mês de governo mostra que os próximos anos serão de total domínio da mídia e das atenções. Vitorioso em seu novo castelo. Donald adora encontrar empresários, seus poucos conselheiros e os atuais fracos lideres mundiais, no Salão Oval, seu “quarto” favorito na Casa Branca.

- O que você acha do Trump? 
Pergunta meu amigo e garçom de longa data dentro do meu restaurante favorito. 

"Não importa". Respondo ao amigo. Acrescento: "Trump está no comando do seu novo show. Estamos apenas na primeira temporada. Neste momento somos todos aprendizes." 

Trump não se interessa e não se importa com nossa opinão. Ele quer que continuemos simplesmente perguntando todos os dias, em todas as mesas de bar em todo o mundo: 

- O que você acha do Trump?