Gilvênio pensava que vivia bem por viver em paz com a sua família, até que Olímpia entrou em sua vida.
Começou como sua secretária com ótima redação, passou a ocupante de seu colo e daí foi um pulo para o Motel Estrela com muito gozo e tentação.
Como ela na hora do louco embalo gritava muito, foi-lhes reservado o apartamento com proteção acústica. Por ser cliente costumeiro, não lhe era cobrado o preço da acústica nem do espelho côncavo no teto.
Para Do Carmo, sua esposa, deu a desculpa de que passava a pertencer ao Grupo Secreto de Orações ao cair da noite e chegaria mais tarde. Para os amigos muito íntimos contara a verdade e eles morreram de inveja. Afinal, Olímpia era mulher de chamar atenção e despertar desejos pecaminosos em todos eles.
Já Do Carmo era beata de ter joelhos ralados e encardidos de tanto rezar. Ela passara para a fase em que preferia escovar os dentes depois de comer doce de leite que lavar as partes.
Naquela fase do casamento era preferível ter “um marido insistente em fazer as dele” até quando ela estava “morrendo de sono”.
Na igreja é afirmado que se o marido pedir, a mulher casada comete o pecado se negar. Se não pedir, o problema é com ela. Tomara que não sejam orações. Mas nem queria saber o que era. Dela não era o pecado.
Gilvênio ostentava sua felicidade aos mais íntimos e para comemorar um ano de alegria, convidou Olímpia para irem à Capital do Estado.
Hospedaram-se o Hotel América que tivera grande fama no passado mas que agora era discreto e ainda mantinha todo conforto. Pediram apartamento de fundo, havia o problema da gritaria no louco embalo. Para Do Carmo dissera que o Grupo de Orações iria fazer Retiro em local secreto e que deveriam receber uma benção especial.
Na Capital, os primeiros três dias foram de parque municipal, passeio de bonde, de cinema de filme francês e de muita fornicação.
Os outros apartamentos do fim do corredor não estavam ocupados, assim do louco embalo nada ninguém ouvia. Estavam soberanos e à vontade. Era fornicar e fornicar protegendo o segredo.
Roberval, de profissão caixeiro-viajante, empedernido solteirão, bonitão nos trechos da ferrovia que percorria para cumprir seus afazeres, sedutor por segunda profissão, morava no apartamento ao lado do que eles se hospedaram. Acabara de chegar de viagem, tomara banho e estava recostado aguardando a hora de jantar. Foi quando ouviu os altos brados de Olímpia e enlouqueceu.
Sedutor por segunda profissão, admitiu para ele próprio que nunca ouvira mulher nenhuma gritar com tanta sinceridade o “eu morro, tá tão bom,você me mata!” Ficou completamente ensandecido de desejo.
Desceu para o Salão de Refeições e ficou aguardando o aparecimento dos dois. Demoraram mas apareceram. Inundados de safadeza, mas famintos. Devoraram a sopa e mais o que havia para jantar. Roberval custou a reconhecer Gilvênio, seu cliente dono do maior varejo, o Armazém Primavera, da próspera cidade Princessa do Sertão. Lá era o respeitado senhor Gilvênio do Grupo Secreto de orações.
Mesmo tomado da maior inveja, esperou que eles acabassem a refeição e a sobremesa, aproximou-se para os cumprimentos no cafezinho. Gilvênio sem rodeios pediu-lhe ser discreto e Roberval não só fez a jura, mas comunicou que estava saindo de viagem ainda naquela noite. Mas ficou escondido em seu próprio quarto, ouvindo o “eu…morro…” e somente viajou na madrugada.
Amiudou suas idas a Princesa do Sertão e, por artimanhas, sempre conseguiu “um dedo de prosa” com Olímpia longe de Gilvênio. De dedo passou a mão inteira, e ele acabou por propor casamento e irem morar na Capital.
Fugiram no trem que sai às cinco da manhã quando Gilvênio ainda ouvia Do Carmo roncar. Casaram-se na igrejinha de Salvador e foram morar no Bairro Serrano, numa casa muito confortável construída no meio do terreno de forma que vizinho nenhum escutava o “eu morro…”.
Foram sempre felizes. Ele deixou a profissão de viajante e jantava em casa. Fornicavam à noite.
Passados três meses sem qualquer notícia e com muito sofrimento e desespero, Gilvênio resolveu de fato criar o Grupo Secreto de Orações a que dedicou de corpo e alma.
Mas nas madrugadas de sonho escutava claramente “eu morro, você me mata.
Arthur Lopes Filho
Começou como sua secretária com ótima redação, passou a ocupante de seu colo e daí foi um pulo para o Motel Estrela com muito gozo e tentação.
Como ela na hora do louco embalo gritava muito, foi-lhes reservado o apartamento com proteção acústica. Por ser cliente costumeiro, não lhe era cobrado o preço da acústica nem do espelho côncavo no teto.
Para Do Carmo, sua esposa, deu a desculpa de que passava a pertencer ao Grupo Secreto de Orações ao cair da noite e chegaria mais tarde. Para os amigos muito íntimos contara a verdade e eles morreram de inveja. Afinal, Olímpia era mulher de chamar atenção e despertar desejos pecaminosos em todos eles.
Já Do Carmo era beata de ter joelhos ralados e encardidos de tanto rezar. Ela passara para a fase em que preferia escovar os dentes depois de comer doce de leite que lavar as partes.
Naquela fase do casamento era preferível ter “um marido insistente em fazer as dele” até quando ela estava “morrendo de sono”.
Na igreja é afirmado que se o marido pedir, a mulher casada comete o pecado se negar. Se não pedir, o problema é com ela. Tomara que não sejam orações. Mas nem queria saber o que era. Dela não era o pecado.
Gilvênio ostentava sua felicidade aos mais íntimos e para comemorar um ano de alegria, convidou Olímpia para irem à Capital do Estado.
Hospedaram-se o Hotel América que tivera grande fama no passado mas que agora era discreto e ainda mantinha todo conforto. Pediram apartamento de fundo, havia o problema da gritaria no louco embalo. Para Do Carmo dissera que o Grupo de Orações iria fazer Retiro em local secreto e que deveriam receber uma benção especial.
Na Capital, os primeiros três dias foram de parque municipal, passeio de bonde, de cinema de filme francês e de muita fornicação.
Os outros apartamentos do fim do corredor não estavam ocupados, assim do louco embalo nada ninguém ouvia. Estavam soberanos e à vontade. Era fornicar e fornicar protegendo o segredo.
Roberval, de profissão caixeiro-viajante, empedernido solteirão, bonitão nos trechos da ferrovia que percorria para cumprir seus afazeres, sedutor por segunda profissão, morava no apartamento ao lado do que eles se hospedaram. Acabara de chegar de viagem, tomara banho e estava recostado aguardando a hora de jantar. Foi quando ouviu os altos brados de Olímpia e enlouqueceu.
Sedutor por segunda profissão, admitiu para ele próprio que nunca ouvira mulher nenhuma gritar com tanta sinceridade o “eu morro, tá tão bom,você me mata!” Ficou completamente ensandecido de desejo.
Desceu para o Salão de Refeições e ficou aguardando o aparecimento dos dois. Demoraram mas apareceram. Inundados de safadeza, mas famintos. Devoraram a sopa e mais o que havia para jantar. Roberval custou a reconhecer Gilvênio, seu cliente dono do maior varejo, o Armazém Primavera, da próspera cidade Princessa do Sertão. Lá era o respeitado senhor Gilvênio do Grupo Secreto de orações.
Mesmo tomado da maior inveja, esperou que eles acabassem a refeição e a sobremesa, aproximou-se para os cumprimentos no cafezinho. Gilvênio sem rodeios pediu-lhe ser discreto e Roberval não só fez a jura, mas comunicou que estava saindo de viagem ainda naquela noite. Mas ficou escondido em seu próprio quarto, ouvindo o “eu…morro…” e somente viajou na madrugada.
Amiudou suas idas a Princesa do Sertão e, por artimanhas, sempre conseguiu “um dedo de prosa” com Olímpia longe de Gilvênio. De dedo passou a mão inteira, e ele acabou por propor casamento e irem morar na Capital.
Fugiram no trem que sai às cinco da manhã quando Gilvênio ainda ouvia Do Carmo roncar. Casaram-se na igrejinha de Salvador e foram morar no Bairro Serrano, numa casa muito confortável construída no meio do terreno de forma que vizinho nenhum escutava o “eu morro…”.
Foram sempre felizes. Ele deixou a profissão de viajante e jantava em casa. Fornicavam à noite.
Passados três meses sem qualquer notícia e com muito sofrimento e desespero, Gilvênio resolveu de fato criar o Grupo Secreto de Orações a que dedicou de corpo e alma.
Mas nas madrugadas de sonho escutava claramente “eu morro, você me mata.
Arthur Lopes Filho