Sou do tempo em que computador tinha o nome de cérebro eletrônico. Lembro-me bem. Na Copa do Mundo de 1958, diziam que a União Soviética era o bicho papão. O time da potência comunista tinha uma tática infalível, programada por um tal cérebro eletrônico.
Pouco adiantou.
Um homem de pernas tortas, nascido em Pau Grande e que tinha o dito cujo, segundo seu biógrafo, bem grande e um garoto de dezoito anos que atendia pelo apelido de Pelé, desorganizaram os circuitos do tal "cérebro", eliminaram os russos e caminharam, enfim, para a primeira grande conquista do futebol brasileiro. Tudo isso pertence a história Quem viveu, viu. Quem não viveu, contente-se em ouvir falar.
Naquele tempos não tínhamos senhas. Nem conta em banco. Afinal, eu tinha catorze anos e conta em banco era para poucos. Quem as tinha, chegava na agência, entregava o cheque no balcão. O atendente destacava do cheque um canhoto e entregava ao dono ou portador do mesmo. Daí a pouco, o caixa cantava o número do cheque que correspondia ao número do canhoto. Apresentado o dito cujo na boca do caixa, o dinheiro era entregue. Antes da entrega, a saída do numerário já tinha sido anotada na cartolina do correntista e a assinatura devidamente conferida.
Simples assim.
Nas caixas econômicas, de tempos em tempos, levava-se a caderneta até à agência para anotação de entradas, saídas e pasmem: juros!!!
Dinheiro em banco naqueles tempos rendia juros. Não precisava aplicar. Bastava depositar. E dizem que o Brasil não era mais honesto.
Hoje vivemos na era das senhas. Senhas de cartão de crédito, senhas de cartão de hospedagem nos hotéis que não tem mais chaves nos quartos. Senhas de redes sociais (essas eu não tenho), senhas para abrir o computador, para o smartphone, para o cofre do quarto do hotel, e quatro ou cinco senhas para contas bancárias.
Além das senhas, reconhecimento pelas digitais. O Bradesco é mais guloso: não se contenta com o dedo polegar, precisa colocar a mão espalmada e o pulso em um lugar determinado. Dizem que é para a minha segurança . Os políticos para votar em plenário tem senhas. Para evitar os "tocadores de piano" que eram comuns até outro dia, cobrindo a ausência dos gazeteiros.
Nos bancos ou no cartão de crédito, se errar a senha três vezes, fica tudo bloqueado. Trabalho dobrado. Ir à agência e fazer nova senha. Um inferno para quem é velho e nasceu bem antes do cérebro eletrônico.
Com tantas senhas, codinomes e outras formas para burlar os amigos do alheio, comprova-se que nunca se roubou tanto.
O Brasil é uma imensa quadrilha escancarada. São escândalos e mais escândalos. No meu sentir, esqueceram do principal: uma das mais antigas histórias de ladrões, a de Ali Baba, muito comum no meu tempo de criança, tinha uma senha para abrir a caverna onde se guardava o produto dos roubos:
"Abra-te sésamo".
Notas:
1) Os bancos além de pagar juros aos depositantes, não cobravam taxas como hoje. Tudo era simples e rápido. Educado, limpo e sem frescura. E mais: não tinha saidinha de banco.
2) O Brasil já foi melhor, menos comunista. Drogas nem pensar. Fumo de Angola , a popular maconha, eu só conhecia a semente que era danada de boa para curió e bicudo. Vendia no Mercado Central.
Lança-perfume era produzido pela Rhodia e aparecia no carnaval. Assalto ao trem pagador virou filme de sucesso. Tião Medonho e seus cumpinchas em preto e branco.
3) Não gosto de implicar com a imprensa. Infelizmente tem coisas que me dão nos nervos. Gosto de Carlos Alberto Sardemberg. O que escreve no Globo é bem embasado e sempre faz sentido. Tarimbado e com muita estrada. Apresenta diariamente um programa de meio dia às duas na CBN. No finalzinho, sempre chama uma tal de Mara Luquet. Não sei o que a tal tem que aparece na Globonews, na Globo mãe, faz palestra, escreve livros e quetais.
Acho a mulher uma chata. Gosto não se discute. Ontem Sardemberg chamou a dita cuja e perguntou:
- Mara, você está no aeroporto?
- Sim.
- Almoçando, Mara?
- Sim.
- Sozinha?
- Não, com minha mãe.
- Almoçando o quê...?
Desliguei o radio.
O quadro da Luquet chama-se: O Assunto é Dinheiro".
E os patrocinadores pagam.
Urtigão (desde 1943)
(pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, nascido em Rio Piracicaba em setembro de 1943)
Pouco adiantou.
Um homem de pernas tortas, nascido em Pau Grande e que tinha o dito cujo, segundo seu biógrafo, bem grande e um garoto de dezoito anos que atendia pelo apelido de Pelé, desorganizaram os circuitos do tal "cérebro", eliminaram os russos e caminharam, enfim, para a primeira grande conquista do futebol brasileiro. Tudo isso pertence a história Quem viveu, viu. Quem não viveu, contente-se em ouvir falar.
Naquele tempos não tínhamos senhas. Nem conta em banco. Afinal, eu tinha catorze anos e conta em banco era para poucos. Quem as tinha, chegava na agência, entregava o cheque no balcão. O atendente destacava do cheque um canhoto e entregava ao dono ou portador do mesmo. Daí a pouco, o caixa cantava o número do cheque que correspondia ao número do canhoto. Apresentado o dito cujo na boca do caixa, o dinheiro era entregue. Antes da entrega, a saída do numerário já tinha sido anotada na cartolina do correntista e a assinatura devidamente conferida.
Simples assim.
Nas caixas econômicas, de tempos em tempos, levava-se a caderneta até à agência para anotação de entradas, saídas e pasmem: juros!!!
Dinheiro em banco naqueles tempos rendia juros. Não precisava aplicar. Bastava depositar. E dizem que o Brasil não era mais honesto.
Hoje vivemos na era das senhas. Senhas de cartão de crédito, senhas de cartão de hospedagem nos hotéis que não tem mais chaves nos quartos. Senhas de redes sociais (essas eu não tenho), senhas para abrir o computador, para o smartphone, para o cofre do quarto do hotel, e quatro ou cinco senhas para contas bancárias.
Além das senhas, reconhecimento pelas digitais. O Bradesco é mais guloso: não se contenta com o dedo polegar, precisa colocar a mão espalmada e o pulso em um lugar determinado. Dizem que é para a minha segurança . Os políticos para votar em plenário tem senhas. Para evitar os "tocadores de piano" que eram comuns até outro dia, cobrindo a ausência dos gazeteiros.
Nos bancos ou no cartão de crédito, se errar a senha três vezes, fica tudo bloqueado. Trabalho dobrado. Ir à agência e fazer nova senha. Um inferno para quem é velho e nasceu bem antes do cérebro eletrônico.
Com tantas senhas, codinomes e outras formas para burlar os amigos do alheio, comprova-se que nunca se roubou tanto.
O Brasil é uma imensa quadrilha escancarada. São escândalos e mais escândalos. No meu sentir, esqueceram do principal: uma das mais antigas histórias de ladrões, a de Ali Baba, muito comum no meu tempo de criança, tinha uma senha para abrir a caverna onde se guardava o produto dos roubos:
"Abra-te sésamo".
Notas:
1) Os bancos além de pagar juros aos depositantes, não cobravam taxas como hoje. Tudo era simples e rápido. Educado, limpo e sem frescura. E mais: não tinha saidinha de banco.
2) O Brasil já foi melhor, menos comunista. Drogas nem pensar. Fumo de Angola , a popular maconha, eu só conhecia a semente que era danada de boa para curió e bicudo. Vendia no Mercado Central.
Lança-perfume era produzido pela Rhodia e aparecia no carnaval. Assalto ao trem pagador virou filme de sucesso. Tião Medonho e seus cumpinchas em preto e branco.
3) Não gosto de implicar com a imprensa. Infelizmente tem coisas que me dão nos nervos. Gosto de Carlos Alberto Sardemberg. O que escreve no Globo é bem embasado e sempre faz sentido. Tarimbado e com muita estrada. Apresenta diariamente um programa de meio dia às duas na CBN. No finalzinho, sempre chama uma tal de Mara Luquet. Não sei o que a tal tem que aparece na Globonews, na Globo mãe, faz palestra, escreve livros e quetais.
Acho a mulher uma chata. Gosto não se discute. Ontem Sardemberg chamou a dita cuja e perguntou:
- Mara, você está no aeroporto?
- Sim.
- Almoçando, Mara?
- Sim.
- Sozinha?
- Não, com minha mãe.
- Almoçando o quê...?
Desliguei o radio.
O quadro da Luquet chama-se: O Assunto é Dinheiro".
E os patrocinadores pagam.
Urtigão (desde 1943)
(pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, nascido em Rio Piracicaba em setembro de 1943)