Urtigão: O Prêmio Camões, a Cultura e a Falta de Educação.

Raduam defendendo "sua" patria.
Procure não escrever com o fígado.

Os italianos há muito deixaram a lição: não vou escrever por vingança e tampouco por oportunismo.

Vou expor a minha opinião de cabeça fria, depois de ler quase tudo sobre o “affaire” Raduan Nassar e o ministro Roberto Freire.’

Antes de entrar no caso propriamente dito, farei uma digressão, uma observação rápida e sucinta sobre os princípios básicos e comezinhos da boa educação.

Já de muito tempo eu não uso o transporte coletivo. Sou velho e tenho um carro velho, um fusca 1970 que está comigo desde a fundação.

Azul pavão, bem conservado, é tratado com carinho.

Na maioria das vezes deixo a direção por conta de um jardineiro/caseiro que trabalha na minha casa.

Bom rapaz, prestativo, amigo e de bons princípios.

De boa educação.

No último sábado, na manhã seguinte ao “mal-estar” provocado pelo escritor Raduan Nassar, resolvi experimentar o transporte público implantado em Belo Horizonte em 2014 em função da Copa do Mundo.

Fui até o centro da cidade com meu secretário/jardineiro e já na estação de embarque comentei a respeito do descaso com as instalações.

No ônibus grande, com apenas dois anos de uso, o meu espanto foi maior: limpo por fora, mas por dentro sujo, cadeiras estragadas e pichações.

Coisa de vândalos e de gente mal educada.

Com ar condicionado e rapidez.

Comentei com o meu jardinehiro. Resposta dele: “A maioria está assim, tudo estragado e mal conservado. Hoje está até bom. Dia de pouco movimento. Precisa ver em dias de semana!”

Tenho uma diretriz: para criticar faz-se necessário experimentar. Acho que posso fazê-lo.

Fiquei indignado com o estado dos ônibus e das estações: equipamentos caros que demandaram muito “dinheiro público”. Na toada em que estão, em breve terão de ser substituídos.

De volta para casa de carona com meu filho, pensei no acontecido no dia anterior na entrega do Prêmio Camões.

Volto a dizer: Para criticar, tem de experimentar.

Li e reli o discurso do escritor laureado. Discurso pobre, eivado de lugares comuns e inverdades. Coisa de gente obliterada pela bile e a serviço de um auditório que não tendo voz própria, utilizou-se de um ancião de idéias ultrapassadas para tentar um revide contra um governo constitucionalmente legítimo.

Não gosto da obra do senhor de oitenta e um anos de idade, de vasta cultura e somente duas obras publicadas.

Li “Lavoura Arcaica” ainda nos anos setenta. Não gostei.

No Sábado após o ocorrido no Museu Lazar Segall, li diversas resenhas e opiniões sobre o livro.

Continuo não gostando.

O autor, que hoje se intitula escritor e lavrador, na minha humilde opinião sempre foi um diletante de carreiras e ambientes.

Feliz dele que não pode usufruir de um pai que, a custa de trabalho, fez fortuna no Brasil e sustentou a inquietude do filho com sua algibeira.

O filho, estudante de direito por diversas vezes, de letras clássicas, de alemão, passando pela carreira de um bem sucedido jornal de bairro, conseguiu ser criador profissional de coelhos.

Fazendeiro e não agricultor, doou a sua fazenda para a Universidade de São Carlos em 2010.

Deveria ter doado ao Stédile e outros do MST.

Seria mais coerente com o seu pensamento.

A história da doação foi narrada há tempos pela Revista Piauí. Escritor de obra parca e poucos leitores, sua obra máxima está na terceira ou quarta edição, salvo engano.

Sucesso de crítica e ruim de vendas.

Acredito que nunca quis ser “best-seller”. Obra hermética e transgressora, bem ao gosto da esquerda pensante. Obra feita para demolir paradígmas.

Deixo a crítica para quem entende. Sou um individo bem prático. Gosto de tudo que tenha começo, meio e fim.

Incesto construído, no meu sentir está nos “Os Maias” de Eça de Queiroz.

No meu entendimento deveria acrescentar um ítem à sua biografia: é um velho mal educado.

Aos velhos muita coisa é permitido, como também o é para as crianças. No entanto, a má educação é ruim para velhos e crianças.

Apesar da idade, está lúcido e ao que parece, com saúde.

Serviu de “Cavalo de Tróia para a claque virulenta. Poderia, sim, discordar do governo, ser partidário de Dilma Rousseff, de Lula e de tantos outros que colocaram o Brasil no precipício.

Outros escritores, cientistas, filósofos, teatrólogos e até artistas trrilharam o mesmo caminho e a mesma forma de pensar. Nunca em governos democráticos foram perseguidos por assim proceder.

Ser o homenageado com o maior prêmio da literatura portuguesa e destratar aqueles quem lhe entregara o prêmio na cerimônia de entrega da láurea é o mesmo que ser convidado para jantar e falar mal da comida com os anfitriões.

Em linguagem de gente mal educada, “cuspiu no prato que comeu”.


Notas: 


1) “Lavoura Arcaica, obra máxima do escritor Raduan Nassar, virou filme em 2001. Como o livro, fez sucesso para poucos. O livro é muito transgressor e o filme, mesmo com um bom elenco, não convence. A atriz, Simone Spoladore, é fraca e não está à altura de Raul Cortez e Selton de Melo. Está disponível na internet. Trilha sonora ruim, de gosto duvidoso, beirando música de haréns. Será uma homenagem à origem do autor do Livro? Estranho. Filho de libaneses cristãos, nada a ver.

2) O espírito corporativista da chamada “classe artística" foi imediato: todos a favor do escritor e críticas severas a Roberto Freire, ministro da Cultura. O dono da Companhia das Letras, editora do velho senhor, disse “com todas letras” que o ministro é que errou e faltou diplomacia”. A Carta Capital, de Mino Carta, fez um carnaval. Se Raduan Nassar é idoso, o ministro também não é novo. De ideologia, são parceiros. Ou alguém desconhece que o PPS sucedeu o velho PC de Prestes?

3) Um dos mais acalorados defensores de Radaun Nassar no episódio foi o também escritor Milton Hatoum. Da mesma origem, filho de imigrantes libaneses, Hatoum teve uma de suas obras recentemente adaptada e levada ao ar pela Rede Globo. Dividem também a mesma ideologia marxista. O Brasil continua “sui generis”. Tem mais comunistas do que a Coréia do Norte.
4) A falta de educação saiu do palco e foi para a platéia. Roberto Freire foi vaiado e apupado com gritos de “Fora Temer” e outros ajetivos menos lisonjeiros. Comandando a turba enfurecida, embalada pela recente pesquisa CNT? Lá também estava a tresloucada Marilena Chauí, figura das mais inúteis, recentemente demolida em um artigo de um antigo partidário da esquerda. Rui Fausto escreve a seu respeito na Piauí. Não é rima e nem solução.

5) Uma nota amena: da Coluna Radar da Veja: terceiro secretário do Itamaraty escreve a seus superiores solicitando um passaporte “diplomático”. Um moço com três “probremas”.

6) De um alto funcionário da Belotur, Empresa Municipal de Turismo de BH. Sobre o carnaval de Belo Horizonte: “o aplicativo é um “plus” a mais que estamos disponibilizando para os blocos carnavalesco”.

7) De uma repórter da GloboNews: “às dezoito horas começara uma missa “em relação” aos trinta dia da morte do Ministro Teori Zavascki”. No meu tempo, este de missa era em intenção da alma do finado.

8) Para terminar: na edição de 20/02 do Globo, páginas de opinião, um deputado do Espírito Santo escreve um artigo sobre o “Arrocho Fiscal Capixaba". Li o artigo para não culpar de forma leviana o deputado. No título, grafaram “arroxo”. Manchete. O deputado escreveu certo. O Globo e o revisor erraram. Li na edição eletrônica. 
Na impressa, não sei.


Urtigão ( desde 1943) 
Urtigão é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, nascido em Rio Piracicaba em 1943 )