Urtigão: a Publicidade e as Bulas de Remédios

Cheguei a começar a aprender Russo. Decorei o alfabeto cirílico, a pronúncia das palavras (fácil) e sabia traduzir o CCCP das camisas dos atletas da finada URSS que muitos traduziam por: “Comunista, comunista, comunista, paca...cirílico”.

Nada disso: C de Coyuz, Cocnalnctnkana, C de Cobyetyckaya e P de Recpubckaya. Mais ou menos isso. Falso russo.

Esnobava as namoradas. Eu, entre as muitas línguas que falava, falava russo! Um espanto.

Fui jornalista uns tempos. Como no finado “Diário de Minas”, onde fui "foca", não tinha grana e só dava vales.

Desisti da lida.

Tempos depois emprestei minhas múltiplas facetas a uma agência de RP que também fazia publicidade. Coisa pouca. Na base da cola de sapateiro, fotolito e composição da Clicheria BH.

Funcionava no mesmo prédio do também finado Jornal de Minas do "Minhoca" e do Afonso Raso. Mais um finado.

Meu amigo Marcos Sousa Lima se dizia sócio. Anos depois descobri que não era. Já morreu. Que Deus o tenha. Um homem grande com alma de criança, responsável pela ascensão de muitos "pilantras" no colunismo social. Se a carapuça servir, que a vistam.

De minha pouca experiência na publicidade só sobrou o espírito crítico. Custo a acreditar que grandes empresas paguem por anúncios tão ruins, capazes de fazer inveja ao dono do SOS dos Fogões.

A turma da cerveja é imbatível. A até pouco tempo tinha uma cerveja que descia redondo. Agora ela é redonda para quem quiser sair do quadrado. Tem uma outra que se diz bem cervejada. Bastante óbvio. Não poderia ser bem destilada. Outra é a cerveja do verão. Mostra uma morena escultural E pensar que a maioria dos bebedores de cerveja são barrigudos e nunca terão chance de apanhar a morena, toda moldada no silicone.

Saímos da cerveja e deparamos com a lâmina de barbear capaz de cortar cinco fios de cobre. Coitados dos fabricantes de alicates.

Chegamos aos cosméticos: uma loura bonita, casada com um ator da Globo faz reclame de um creme de nome neutrogena. Ela pronuncia neutrogina. Não sei porque. Se for inglês, deveria ter dois ee. Não tem. Até aí, tudo bem. Acontece que o creme tem um fator Helioplex. O que diabo será isso? Hélio, antes de tudo é sol e depois o nome de um gás inerte. Sol flexível? Mistério! O outro, do qual não lembro o nome, anuncia que tem sulfur na fórmula. Se traduzir, ninguém compra.

Sulfur é o velho e bom enxofre, que está na pólvora e também nos flatos.

Os iogurtes também são formidáveis. Um tem activia. O outro tem "dan regularis". Deve ser bom pra danar.

Eu não me arrisco. Desinteria mata velho.

Uma Nota:

O titular do blog foi publicitário de respeito. De prêmio na prateleira, de parceiro da "mídia" e placa de acrílico na mesa. Na porta da sala a placa: “chefe em brainstorming. Não interrompa”.

Bem que poderia começar uma campanha para as fábricas de cosméticos e os laboratórios aumentar a fonte dos escritos dos rótulos dos xampus e das bulas. Não é possível usar óculos no chuveiro. Ler bula é um sacrifício.

Quem sabe os publicitários se lembrem dos velhos?


Urtigão (desde 1943)
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Resposta do Mário: 

Caro Urtigão:

1) Bula de remédio é imposição de órgãos da Saúde. Graças a Deus, nunca tive de trabalhar para fabricantes de remédios mas acho que o tamanho das bulas e das letras deve ser imposição dos fabricantes, seja por mentalidade tacanha, burrice ou pão-durismo. Sim, trata-se de evidente desrespeito ao consumidor, mas entendo que não seja obra exclusiva da classe publicitária tão vilipendiada nos últimos tempos por suas atuações para politicos safados (uma unanimidade?).

2) Já que você citou a Clicheria BH, veio-me à lembrança o Serjão, dono da empresa, pessoa agitada, ex-bancário que entrou na atividade com mentalidade pra frente em termos de modernização e, talvez por isso, vítima de preconceitos. Eu mesmo tinha restrições ao seu jeito de ser, mas com o tempo fui descobrindo toda sua grandeza humana, além da grandeza corporal. Devo demais ao Sérgio por tudo que me ajudou me amparando em momento dramática em que um sócio salafrário, através de jogadas bancárias, roubava escandalosamente. Sérgio, que era amigo do ladrão, saiu em minha defesa e me ajudou a colocar o safado para fora da empresa, além de me orientar na parte financeira e administrativa. Grande Serjão


Mário Ribeiro