As muitas liberdades dos novos tempos de defesa dos direitos humanos, das chamadas conquistas sociais e da filosofia do politicamente correto, se de um lado fizeram surgir espertalhões e demagogos políticos com caras de santo, de outro possibilitaram o aparecimento de pessoas amargas embora expondo largos sorrisos.
A maldade fica encoberta por máscaras de maquiagens primorosas dos salões de beleza das mulheres e dos que antes eram chamados salões de barbeiros.
Mas o mundo é assim mesmo, sempre em eterna evolução, seja para o bem, seja para o mal.
Marcela seria, na brilhante observação de Nélson Rodrigues, uma “mulher inatual”.
Bonito isso: estar fora do contexto evolucionista do mundo, ou seja, ser reacionária diante da realidade modernista da sociedade.
Marcela era inatual porque não exagerava na maquiagem, não gostava da música que as rádios tocavam, não suportava programas de tevê com tanta gente rindo não se sabendo bem o porquê, não acreditava na alegria que as pessoas postavam qual uma máscara mortuária às avessas e não compactuava com falsidades consagradas como se fosse uma evolução em tempos cibernéticos e computadorizados.
Marcela, uma mulher séria, tanto que diziam:
“Não se mexe com uma fera ferida como essa”.
Meio perdida num mundo que rejeitava, Marcela passou a pensar num caminho a seguir sem perder os princípios que tanto preservava.
Por intermédio de um ex-colega de faculdade, ficou sabendo que havia do outro lado da cidade um chamado “círculo de estudos filosóficos”.
Interessou-se.
Era início de ano e ficou sabendo que o círculo iria iniciar um novo período de estudos e debates filosóficos.
Pessoas amigas e da família criticaram perguntando a Marcela o que ela ganharia com o curso.
Ela simplesmente desconhecia o que diziam e pedia para que cuidassem de suas vidas pois sabia muito bem o caminho que queria seguir.
Um senhor em idade avançada dirigia o centro de estudos.
Ele era sério mas durante as sessões sempre usava de fina ironia e do humor para falar sobre tão elevado saber como é a filosofia.
Marcela viu no diretor um novo pai: como era sábio, como transmitia bem seus ensinamentos sobre as teorias dos filósofos, como tornava fácil entender a base das teorias do conhecimento de cada um deles…
Marcela encantou-se com Platão e sua teoria da Caverna onde as sombras ocultam verdades. O mundo das Idéias, onde tudo é mais perfeito e onde está a verdade. O conhecimento, segundo o grande filósofo da Antiguidade, é o cume do caminho percorrido, a “verdade buscada e contemplada”.
Através de Platão ela passou a entender que, à medida que o mundo avança no tempo, ele não consegue enxergar as verdades entre as sombras e acaba por deixar que a verdade se perca.
Enfim, se ela estava fora do contexto da vida atual, por dentro ela precisava trabalhar com mais afinco para chegar à verdade.
Concluiu que o mundo se ferra cada vez mais por esconder a verdade que escapole entre os dedos das mãos.
E mais: uma pessoa interessada na busca do bem passa a ser vista como manipuladora dos fatos ou covarde.
Marcela, pensando com maturidade, concluiu que, ao participar do curso de filosofia e com Platão como guia, ela estava entrando na caverna na busca cada vez maior do conhecimento.
Estava com a alma lavada: os outros que se ferrassem com a realidade cada vez mais burra da civilização.
Afinal, pensava ela, quem com ferro fere, com ferro será ferido, verdade que ela passou a entender como incontestável e que a vida comprova a cada dia.
Mas sem radicalismo, concluiu.
A maldade fica encoberta por máscaras de maquiagens primorosas dos salões de beleza das mulheres e dos que antes eram chamados salões de barbeiros.
Mas o mundo é assim mesmo, sempre em eterna evolução, seja para o bem, seja para o mal.
Marcela seria, na brilhante observação de Nélson Rodrigues, uma “mulher inatual”.
Bonito isso: estar fora do contexto evolucionista do mundo, ou seja, ser reacionária diante da realidade modernista da sociedade.
Marcela era inatual porque não exagerava na maquiagem, não gostava da música que as rádios tocavam, não suportava programas de tevê com tanta gente rindo não se sabendo bem o porquê, não acreditava na alegria que as pessoas postavam qual uma máscara mortuária às avessas e não compactuava com falsidades consagradas como se fosse uma evolução em tempos cibernéticos e computadorizados.
Marcela, uma mulher séria, tanto que diziam:
“Não se mexe com uma fera ferida como essa”.
Meio perdida num mundo que rejeitava, Marcela passou a pensar num caminho a seguir sem perder os princípios que tanto preservava.
Por intermédio de um ex-colega de faculdade, ficou sabendo que havia do outro lado da cidade um chamado “círculo de estudos filosóficos”.
Interessou-se.
Era início de ano e ficou sabendo que o círculo iria iniciar um novo período de estudos e debates filosóficos.
Pessoas amigas e da família criticaram perguntando a Marcela o que ela ganharia com o curso.
Ela simplesmente desconhecia o que diziam e pedia para que cuidassem de suas vidas pois sabia muito bem o caminho que queria seguir.
Um senhor em idade avançada dirigia o centro de estudos.
Ele era sério mas durante as sessões sempre usava de fina ironia e do humor para falar sobre tão elevado saber como é a filosofia.
Marcela viu no diretor um novo pai: como era sábio, como transmitia bem seus ensinamentos sobre as teorias dos filósofos, como tornava fácil entender a base das teorias do conhecimento de cada um deles…
Marcela encantou-se com Platão e sua teoria da Caverna onde as sombras ocultam verdades. O mundo das Idéias, onde tudo é mais perfeito e onde está a verdade. O conhecimento, segundo o grande filósofo da Antiguidade, é o cume do caminho percorrido, a “verdade buscada e contemplada”.
Através de Platão ela passou a entender que, à medida que o mundo avança no tempo, ele não consegue enxergar as verdades entre as sombras e acaba por deixar que a verdade se perca.
Enfim, se ela estava fora do contexto da vida atual, por dentro ela precisava trabalhar com mais afinco para chegar à verdade.
Concluiu que o mundo se ferra cada vez mais por esconder a verdade que escapole entre os dedos das mãos.
E mais: uma pessoa interessada na busca do bem passa a ser vista como manipuladora dos fatos ou covarde.
Marcela, pensando com maturidade, concluiu que, ao participar do curso de filosofia e com Platão como guia, ela estava entrando na caverna na busca cada vez maior do conhecimento.
Estava com a alma lavada: os outros que se ferrassem com a realidade cada vez mais burra da civilização.
Afinal, pensava ela, quem com ferro fere, com ferro será ferido, verdade que ela passou a entender como incontestável e que a vida comprova a cada dia.
Mas sem radicalismo, concluiu.
Mário Ribeiro