Meu Tempo na Caserna - Arthur Lopes Filho

Quando prestei o Serviço Militar no CPOR-BH, Centro Preparatório de Oficiais da Reserva de Belo Horizonte, cursando a Arma de Engenharia, o Chefe de Curso era o Major Barreto. 

A par de sua formação de ótimo Oficial do Exército e de sua inteligência, tinha apurado senso crítico que utilizava no relato de fatos por ele observados. Contou para nós, Alunos em formação para Aspirantes a Oficiais, que os “Oficiais Pracinhas” da Segunda Guerra, merecidamente receberam o direito de quando viessem a reformar fossem promovidos ao posto imediato. 

Os oficiais que estavam na guarda, e defesa da costa brasileira, disseram que não estavam na frente de batalha por não ter lugar para eles, mas estavam em postos que poderiam requerer combates ao inimigo. 

Então veio a chamada “Lei da Praia” e eles foram incluídos. E os oficiais que se encontravam no interior, disseram que não estavam na frente de batalha e nem na praia, por não ter lugar para eles. E por isto nosso Chefe de Curso, que na época da guerra era segundo tenente servindo no Mato Grosso, foi beneficiado pela “Lei da Praia”.

Contou a nós os alunos que os oficiais que combateram contra a “Intentona Comunista” tiveram direito a reformar no posto imediato.

A soma das promoções dos dois casos criou uma injustiça com alguns generais. Deu como exemplo o do General de Exército Zenóbio da Costa. Combatera contra a Intentona e na guerra. Tinha direito a duas promoções, mas havia somente um posto acima, o de Marechal. Assim ele perdera uma promoção. Talvez devesse ser criado para o caso, o posto de Super Marechal.

Era assim o senso crítico do Major Barreto.

Entre outros casos, houve o do aluno que entrou correndo, atrasado, com a tropa já em forma. Chamado à ordem, alegou para o major que o relógio-despertador da empregada havia estragado e ele havia emprestado o dele para ela que não acordou e ele não chegara no horário. Foi curto na sua decisão:
- Ou você compra mais um despertador ou dorme com a empregada. Hoje vai ser punido com “revista”, da próxima vez com dois dias de prisão.

Assim era o senso de boa disciplina do Major Barreto. Nós, colegas de curso, ficamos na dúvida se houve a compra de outro despertador, mas o aluno não mais chegou atrasado.

O CPOR-BH fazia a formação de Aspirantes a Oficiais nas armas de Engenharia, Artilharia, Infantaria e Cavalaria, e nos Serviços de Intendência e Saúde. O tempo da formação demandava dois anos, exceto Saúde que demandava um ano, mas os alunos saíam como Sargentos. Somente recebiam a espada de oficial, após a formatura no curso superior de medicina, odontologia ou farmácia. Havia ainda um destacamento de soldados prestando o serviço militar.

Todos lembramos quando o encarregado do assunto chegou à conclusão que os alunos estavam gastando papel higiênico mais que o necessário. Por esse motivo, colocou um soldado na entrada dos sanitários com o rolo de papel higiênico. Tinha ordem de fornecer apenas o pedaço que fosse necessário. Apesar dos protestos, durou até o dia em que um soldado de apelido Gasolina estava no “Plantão da Privada”. Entrou um oficial e o Plantão com o papel higiênico na mão, perguntou respeitosamente:

- Vossa Excelência vai obrar ou apenas mijar?

Diante da pergunta:

- Soldado você sabe quem sou eu?

Veio a resposta de Gasolina:

- Pela pinta é Major.

Levou dez dias de cadeia.

Era o Sub-Comandante do CPOR um Tenente-Coronel, que imediatamente fez encerrar o elevado posto de “Plantão das privadas”. Para alegria dos alunos que puderam voltar a usar fartamente do papel higiênico.

Poderia contar mais casos de meu Tempo de Caserna, mas deixo para outros colegas se lembrarem de outros até mais engraçados.

Recebi minha espada de Aspirante a Oficial com o sentimento de muita honra.


Arthur Lopes Filho