O fato que vou narrar é a expressão da verdade. Ilustra bem a capacidade dos pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e a facilidade da burocracia patrícia em descartar os seus talentos.
Um ex-pesquisador da Embrapa, aposentado compulsoriamente aos sessenta e cinco anos, uma das maiores autoridades em sua área de pesquisa, foi consultado por uma multinacional a respeito de emprego de herbicida em um cultivo que mantinha em uma remota
área no interior do Maranhão.
área no interior do Maranhão.
Isso se deu no princípio dos anos 2000. A empresa plantava "jaborandi"de forma intensiva. A planta nativa, cultivada fora do "habitat", sofria com a infestação de plantas daninhas que dificultavam o seu crescimento, além de outras pragas, entre elas um tipo de besouro.
Combater as plantas daninhas para o nosso personagem era "café pequeno", se não fosse um fato relevante: das folhas do jaborandi a empresa retirava o princípio ativo de nome "Pilocarpina", componente de um colírio de sua fabricação para pacientes com glaucoma.
De forma nenhuma, o herbicida poderia subir pelo caule da planta pela seiva e contaminar o princípio ativo. Depois disso, o nosso cientista teria de arranjar meios de combater besouros que teimavam em subir pelo caule e comer os brotos tenros do jaborandi.
Nada impossível para um dos primeiros brasileiros a estudar nos USA, onde fez Mestrado e Doutorado, especializando-se exatamente na Ciência das Plantas Daninhas e no Emprego Seguro de Herbicidas. Foram quase dez anos em Purdue, que lhe valeram respeito em todo o mundo, trabalhos publicados e partilhamento de boa ciência com colegas do Brasil e do exterior.
Escolhido o herbicida, feitos os testes em plantas no laboratório e aprovação da multinacional, mãos à obra. Sucesso total contra os invasores verdes. E os besouros? Solução engenhosa de controle natural de pragas: soltaram na plantação cerca de quinhentas galinhas d'Angola que comiam os besouros até meia altura. Para os besouros do alto das plantas, combate natural com emas soltas na plantação.
E ainda noticiam manchetes em jornais e outros veículos de comunicação alardeando o cultivo de orgânicos e o perigo dos agrotóxicos. Infelizmente não conhecem ciência séria .
Uma Nota:
Conheci o Prof.Dr.João Baptista da Silva, em 1983, no Minascentro. Ele foi o primeiro cliente que por lá apareceu para fazer uma reserva.
Uma Nota:
Conheci o Prof.Dr.João Baptista da Silva, em 1983, no Minascentro. Ele foi o primeiro cliente que por lá apareceu para fazer uma reserva.
Foi presidente de um Congresso de sua especialidade, em julho de 1984. Depois esteve lá para sediar um Congresso Brasileiro de Milho e Sorgo. Depois de minha saída do Centro de Convenções, tive o prazer de conviver com ele e outros pesquisadores da Embrapa em várias ocasiões. Ao ser aposentado aos sessenta e cinco anos, cheio de vigor e de competência, ficou muito aborrecido. Ficou triste.
Um homem honesto que conseguiu estudar as custas do governo e tornar-se cientista desta forma. Semlre achou que ainda tinha muito a contribuir e foi tolhido pela burocracia burra.
Urtigão (desde 1943)Urtigão é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, nascido em Rio Piracicaba em 1943
Urtigão (desde 1943)Urtigão é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, nascido em Rio Piracicaba em 1943