Ilha Deserta - Crônica Jornal Estado de Minas - 11/05/2017 - Mário Ribeiro

Mergulhados no turbilhão de informações, acabamos por ficar perdidos no tempo apesar de, no fundo, nos sentirmos a cada dia mais cercados pelos donos de todas as verdades absolutas.

Certamente seria considerado um absurdo que aparecesse no meio da sociedade moderna um tipo barbudo, irrascível e raivoso que rechaçasse, com o seu racionarismo e um porrete, tudo que o incomodasse.

O chamado processo civilizatório destruiria de imediato essa excrecência humana, ainda mais que há uma espécie de ordem para que todos os mortais se posicionem acima do bem e do mal, com o beneplácido social de que nunca parem de julgar os atos considerados politicamente incorretos que cometemos por hábito e tradição.

Apesar disso, prevalece a ilusão, vista como saudável, de que tudo está ótimo, maravilhoso, cheio de amor para dar. Enquanto isso, o radicalismo espalha-se pelo mundo em guerras junto com a ameaça de uma ainda maior, absolutamente geral e irrestrita, comandada por maníacos preparados para soltar foguetes que cruzem continentes com bombas atômicas e que tais.

Pobres mortais, assistimos a tudo isto com o desânimo próprio dos descrentes de que não adianta sair às ruas, como já aconteceu, portando faixas e bandeiras com a inscrição “faça amor, não faça a guerra”, como pregavam os hippyes, então julgados loucos e irresponsáveis.

Não será de espantar se o velho slogan seja invertido e dentro em breve apareçam faixas com a inscrição:

“não faça amor, faça a guerra”.

Melhor ir para uma ilha deserta, se ainda existir uma.


Mário Ribeiro