Não há para aonde Fugir - Monica Theiser

No mês de junho comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente. Escolas, empresas, imprensa, e mídias sociais, alertam, a meu ver, timidamente, sobre a relevância da sua conservação. Infelizmente a maioria das pessoas nem sabe que essa data existe. 

O Dia Mundial do Meio Ambiente foi escolhido durante a Conferência da ONU em Estocolmo, realizada em junho de 1972. Neste encontro, 113 países começaram a discutir como seria possível o crescimento econômico sem impacto ambiental, a relação do homem com o meio ambiente e o alerta ao fato dos recursos naturais não serem inesgotáveis.

Mais de 40 anos se passaram, outros importantes encontros e acordos internacionais foram assinados entre países e organizações, entretanto, o que vemos é poluição, exaustão, ameaças à biodiversidade e os limites do planeta acenando para um cenário nada favorável.

Mas o que é o meio ambiente? Na realidade ele é tudo, os animais, o mar, a montanha, a floresta, o rio, o mar, o ar. E tudo está interligado, funcionando como um intrigante sistema, que se mantém vivo há bilhões de anos, mas está sendo ameaçado por nós e nossas atitudes, seres em princípio racionais, e que, ironicamente, seremos as maiores vítimas de um outro sistema que criamos.

A velocidade do crescimento econômico atropelou a nossa consciência sobre os impactos ambientais e sociais dessa transformação. Não nos damos conta que por volta de 1850, éramos 1 bilhão de seres humanos no mundo e até aquele momento (considerando calendário cristão), o crescimento populacional não havia sofrido muita disparidade, considerando momentos de ápice e declínio (como resultado de guerras, doenças, etc) populacional. Como exemplo, no ano 1.d.C. éramos 225 milhões de habitantes na terra. Por volta de 1820 somávamos 1 bilhão de pessoas no planeta *. A partir dessa época, que também marca o início da Revolução Industrial, com avanços tecnológicos galopantes na agricultura, na indústria e na saúde, registramos um aumento populacional altissonante, pois em menos de 200 anos, somamos quase 7 bilhões de pessoas na Terra. Uma multidão que não para de crescer e que necessita de alimento, água e ar para viver. E aí chegamos no elemento principal.

Jared Diamond, em seu livro Colapso, analisa algumas sociedades e como quebraram por não respeitarem os limites da natureza para própria sobrevivência. Um exemplo citado em seu livro foi a Ilha da Páscoa, que por volta do ano 1000 d.C. chegou a ter 15.000 habitantes, chamados de Rapa Nui, além de ser coberta por uma floresta de palmeiras. Na chegada dos europeus em 1872, eram pouco mais do que 100 nativos. Não se sabe ao certo se foi falta de conhecimento somada à ambição, mas estudos arqueológicos revelaram que os nativos não souberam administrar os recursos naturais da pequena ilha. Primeiro com o desmatamento e utilização do solo para agricultura, que com a ausência da vegetação nativa resultou em erosão. Além disso, a construção dos gigantes e famosos “Moai” também consumiu uma boa parte dos recursos naturais, já que os troncos das árvores ajudavam a transportá-los para distribuí-los em pontos distantes na ilha. Acontece que as árvores, serviam como lenha para queimar e como canoas para que os nativos pudessem sair e pescar. Com falta de alimento, a população diminui e começa o cenário de colapso.

Existem pesquisadores que narram outros fatos para a extinção quase total dos habitantes da ilha da Páscoa. Eles associam as mortes por doenças trazidas pelos europeus e a ratos, que vieram com os polinésios nativos da ilha, provocando sérios danos ao ecossistema.

Sempre haverá mais de uma versão dos fatos. O mesmo ocorre, por exemplo, com o tema do aquecimento global, o protagonista quando se fala em riscos ao meio ambiente. Enquanto de um lado, há especialistas que afirmam a urgente necessidade de limitar a temperatura global para evitar um desastre ambiental, do outro, há cientistas que associam a elevação da temperatura na terra a um ciclo normal do universo e garantem que esse alarme representa uma fraude, alimentada pela mídia, alicerçada por interesses políticos e comerciais de instituições e países.

Mas opiniões distintas e polêmicas também podem provocar debates, propagar a informação e, quem sabe, indiretamente, incentivar o interesse para preservação do meio ambiente, envolvendo ainda mais experts na procura por respostas corretas.

Já é extensa a lista dos prejuízos que trouxemos à natureza e continuamos no mesmo ritmo. Dois exemplos alarmantes sobre as consequências dos maus hábitos humanos são a crescente urbanização e o que está sendo feito com os oceanos.

Começando pelo processo de urbanização, mais de 50% da população mundial já vive em centros urbanos e principalmente nos países mais pobres, não há planejamento para essa expansão. Áreas verdes são removidas para a construção de casas, grandes empreendimentos imobiliários (parte deles em áreas irregulares), indústrias e anéis viários. O resultado é a poluição da água e do ar, consumo elevado de energia, acúmulo de lixo em áreas impróprias, prejuízos a flora e fauna, além de riscos para nossa saúde.

Com referência aos oceanos, a poluição, a acidificação e a pesca irregular já colocam em risco a nossa segurança alimentar, pois a biodiversidade marinha reduziu pela metade nos últimos 40 anos **. Outro dado assustador nos mares refere-se à ilha de plástico que agora existe no oceano. O crescimento da população mundial acompanhado pelo avanço tecnológico, resultaram em aumento do consumo e geração de resíduos. Das 100 milhões de toneladas de plástico produzidas em um ano, 10% acaba no mar. Esses resíduos são arrastados por correntes marítimas ao redor do planeta e se acumulam com volume assustador em alguns pontos. Mas além da morte de seres marinhos, o que não imaginamos é que esses resíduos plásticos que nós produzimos, se transformam em micropartículas de polímeros plásticos contaminados por algumas substâncias, praticamente impossíveis de coletar e que acabam sendo ingeridos pelos peixes. Numa análise feita com 670 peixes, encontraram quase 1,4 mil fragmentos de plástico. Peixes intoxicados que nós consumimos depois, o que traz riscos à nossa saúde.

Foram apenas dois exemplos dos impactos que o meio ambiente vem sofrendo nas últimas décadas. Mas será que há solução?

Melhor acreditarmos que sim, mas será um trabalho árduo que envolve todo mundo, instituições, governo, escolas, universidades e todos nós. Temos que olhar com mais cuidado e responsabilidade para as nossas próprias ações, dentro de casa, ao nosso redor, no próprio bairro em que moramos ou nos lugares que visitamos. Conversar com familiares, vizinhos e amigos sobre o que poderia ser feito para, por exemplo, a praça próxima de casa ser mais arborizada e agradável para o lazer. Não podemos mais esperar que todas as respostas venham somente dos nossos governantes, por meio de acordos e metas ambientais internacionais. É relevante conhecê-las, claro, mas também precisamos contribuir para colocá-las em prática, procurar canais de participação e debate em nossa cidade ou bairro, para acelerar a elaboração de políticas públicas em defesa do meio ambiente. Já passou da hora de sermos mais participativos e reaprendermos a viver em sociedade, pois isso também garantirá a nossa sobrevivência.

O Dia Mundial do Meio Ambiente é um lembrete fundamental de todos os riscos existentes, porém, mais importante ainda, é respeitarmos continuamente a natureza, pois somos cada vez mais pessoas no planeta, mas os recursos naturais são limitados e nós dependemos deles para viver. Se não tomarmos cuidado agora, depois não haverá para onde fugir...

Monica Theiser

*Jeffrey Sachs – The Age of Sustainable Development
** http://www.wwf.org.br/wwf_brasil/?47822/em-40-anos-a-biodiversidade-marinha-do-planeta-foi-reduzida-a-metade
*** P
alestra do capitão Charles Moore, o primeiro que descobriu a mancha de lixo plástico no Pacífico