Poeta de Pé-quebrado - Crônica Jornal “Estado de Minas" - 29/06/2017 - Mário Ribeiro

Parte do Quadro - The School of Athens - Raphael
Será uma honra ou uma crítica ser chamado de poeta?

Acaba sendo as duas coisas numa mesma sentença, embora ser considerado poeta soa como um grande privilégio, um especial elogio ainda mais partido de quem tem conhecimento bastante para pesar na balança os dois sentidos da palavra.

O poeta verdadeiro não precisa articular versos mesmo os sem muita qualidade, já que, como sonhador, vale a sua visão das coisas, no mais das vezes inocente em relação a arapucas armadas e nas quais, infalivelmente, ele acaba sendo apreendido.

O poeta de verdade em sua sina de sonhador é um assistente dos fatos da vida, voltado para o idealismo que considera viável apesar de um mundo agressivo, sedento de poder e de conquistas não muito santas ou de santidade nenhuma.

Doce ilusão, já que o poeta praticamente não raciocina sobre o carma dos sete pecados capitais pois, parece claro, ninguém deles escapa, alguns mais escancarados e outros apenas motivo de tentação não realizada.

Parece, então, que o poeta vai perdendo sentido no mundo pragmático, objetivo demais, comprometido com a idéia de poder absoluto e ânsias por conquistas materiais próprias da obsessão moderna do consumo conspíquo, do qual não se pode abrir mão para não ser tratado como pessoa fora do mundo real.

Lá nos anos 400 AC, Platão já tratava disso ao filosofar sobre um mundo ideal, mas parece que o seu antecedor, Aristóteles, acabou vencendo falando da praticidade.

Obrigado, caro amigo, pelo elogio ao me chamar de poeta, mesmo eu considerado um poeta de versos-de-pé-quebrado.


Mário Ribeiro