Urtigão, Plebe e Realeza

O Brasil é mesmo um país "sui generis". Fomos colonia de Portugal, vice-reinado e império - aliás, o único das Américas, se não considerarmos uma malfadada e trágica experiência havida no México por intermédio de um descendente de Napoleão Bonaparte.

A vigência de um regime parlamentarista em nosso País, regime no qual o poder moderador era exercido pelo imperador, teve a duração de sessenta e oito anos, a mais longa experiencia democrática de Pindorama, malgrado revoltas, insurreições e até uma sangrenta e custosa guerra contra o Paraguai. O império, com Pedro I e depois o seu filho, resistiu a tudo e manteve a integridade territorial de uma nação do tamanho de um continente.

Alguns marechais, generais e militares menos cotados, ao lado de tribunos republicanos, escorraçaram o velho imperador, doente e alquebrado, posto para fora do País, como um celerado, em quarenta e oito horas, com família e agregados. No meu sentir, uma enorme violência, urdida e perpetrada por poucos, sem o apoio do povo.

A república no Brasil, ao lado de todas as outras das Américas, à exceção dos Estados Unidos, nasceu com defeito de fabricação: defenestramos o imperador e nunca nos livramos do enorme desejo de termos e cultuarmos um rei. Está no nosso sangue e nos nossos desejos mais recônditos.

Vamos aos fatos:

1) Pelé sempre foi e sempre será o rei do futebol.

2) Didi, admirável jogador, campeão de cinquenta e oito foi apelidado por Nelson Rodrigues de "Príncipe Etíope de Rancho".

3) Nos festejos de Congado, sempre tivemos reis e rainhas.

4) No carnaval temos desde rainhas de bateria a rainhas das escolas de samba.

5) Nos tempos do rádio tínhamos as rainhas, eleitas com pompa e circunstância no Programa César de Alencar.

6) Nas escolas primárias tínhamos as rainhas da primavera.


7) Todas as crianças do sexo feminino nos dias atuais, sonham em ser princesas e festejam o aniversário fantasiadas de tal.

8) Marcelo Odebrecht, por ora cumprindo pena em Curitiba foi chamado de Príncipe dos Empreiteiros.

9) Tivemos o "rei das quentinhas", empresário do ramo de alimentação, preso por falcatruas.

10) No Rio de Janeiro, sede da Corte nos tempos do império, já tivemos os reis do jogo de bicho, os reis do contrabando e os chamados reis da noite, a começar por Carlos Machado, o rei do teatro rebolado, passando por Ricardo Amaral (ainda na ativa) e o ex-garçon, Chico Recarey, imigrante espanhol e caloteiro contumaz.

11) No mesmo Rio deJaneiro, tivemos Joaquim Rolla, nascido em São Domingos do Prata, protegido de Arthur Bernardes e posteriormente de Juscelino, foi o "rei da roleta".

Muitos reis com uma coisa em comum: acabaram envolvidos em calotes e safadezas.

No noticiário sobre a venda de Neymar Jr. para o PSG, um dos fatos principais foi o do envolvimento de um príncipe catari, suposto dono do time comprador. Neimar Jr. será o novo rei de Paris, fazendo companhia aos luises e a Napoleão Bonaparte. O jogador Falcão foi chamado de Rei de Roma.

A prevalecer tal lógica e objetivando o desejo extravasado de todos os brasileiros, proponho humildemente aos nossos dignos políticos a reforma da constituição (bastante acostumada com tais remendos) que transformem o Brasil em um império ou reinado e elejam um rei.

Muitos candidatos vão aparecer.

No parágrafo único da lei, proponho o impedimento "ad aeternum" de Luis Inácio Lula da Silva, ficando definitivamente proibido o acúmulo de cargos e funções.

Ele é de forma incontestável o rei das maracutaias, do palavrório inútil, das mentiras deslavadas e da arrogância. Revogam-se as disposições em contrário.


Urtigão (desde 1943)
Urtigão é pseudonimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, nascido em Rio Piracicaba em 1943.