Urtigão, Velhice e Tortura Medieval

A velhice como querem alguns não é a melhor parte da vida. Se assim fosse, ja nascíamos velhos. A melhor idade sem dúvida é a juventude. Mesmo que tenhamos procedido como estroinas, nada se iguala ao tempo de jovem.

Melhor época para procriar, para cumprir o dever de perpetuar a espécie com "mastro em riste", cheio de vigor,
orgulho e soberbia. O jovem não tem barriga, é esbelto e forte. Nada de juntas duras e achaques promovidos por
mudanças de tempo. 
Não sofre de hemorróidas, não tem varizes e tampouco queda de cabelo, pele ressecada, coceiras que requerem cremes, unguentos e pomadas. É um franco atirador, julga-se imortal e capaz de tudo. 

Só perdem para alguns velhos na parte mais sensível do homem: o bolso. Nada que não se resolva em tempos de
conquistas fáceis e capacidade de improvisação. 

Sem viagras e outras mezinhas. Jovens de meu tempo eram viris e não careciam de estimulantes. A tesao era tão espontânea e rápida que muitas vezes causava constrangimento nos bailes e beiradas de portões, na hora da despedida.
Velho é uma merda. Ninguém escreve para velhos, como não escrevia ao coronel da obra famosa do escritor colombiano. Em tempos de internet, nada de comunicação. Correspondência que chega ou é cobrança de IPTU, 
água, luz, telefone ou do cartão de crédito. Quando muito, carta do banco pedindo para fazer prova de estar vivo,
sob pena de corte da aposentadoria.

Recebi hoje uma carta da Editora Abril. Com o pomposo título de Extrato de Renovação de Assinatura. Já sabia do que se tratava. No princípio do ano cancelei a assinatura da Veja. Por azar meu ou má fé dos donos da editora tive
que me adequar ao desejo deles. Receber a revista até novembro pois já estava descontado do meu cartão de crédito, sem chances de devolução. 

Abri a carta e me deparo com uma oferta imperdível: renovação da assinatura já cancelada com trinta e três por cento de desconto nas edições impressas, em 18 parcelas de R$160,20 e mais 10 parcelas de R$8,66, debitadas no meu cartão. 

Acesso às edições eletrônicas e um livro de presente de Veja Beber e Comer ao ano e um Go Box. Tudo isso com a advertência de contacta-los até 13/10. Se não o fizesse até a data, estava concordando com as condições expostas. Uma pechincha!

Aprendi com meu pai, que quando o caldo está quente, farinha nele. Liguei de imediato. O telefone disponível não
aceitou a ligação de celular. Por sorte, velhos ainda tem telefone fixo. Com custo fui atendido. Perdi exatos vinte preciosos minutos tentando desfazer a ARATACA que armaram contra mim. Por fim, consegui dissuadi-los de tentar empurrar-me a assinatura e suas benesses. 

Não sem antes ficar exasperado, com a pressão alterada a ponto de ter de tomar os remédios mais cedo. Um tormento medieval, digno do mais recalcitrante inquisidor. Logo comigo que nem estopim tenho e carrego há anos o apelido de Urtigão.


Uma Nota:

Aprendi ontem uma nova expressão, lendo uma reportagem da revista Piauí. Festa na favela, baile funk e assemelhados, tem no convite para as mulheres a denominação de Festa na árvore. Só entra quem trepa!!!


Urtigão ( desde 1943)
Urtigão e pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, nascido em Rio Piracicaba em 1943.