Não é Mole Não - Crônica Jornal Estado de Minas - 27/12/2017

Parece que, à medida em que a idade avança, são muitas as pessoas que soltam-se de amarras ancestrais e passam a conduzir, com mais vontade, suas vidas dentro de princípios universais de sabedoria e coragem.

Livram-se de alguns laços antigos, põem o pé na dura realidade da vida e passam a buscar um novo rumo.

Novo rumo em idade velha pode parecer incoerência ou, no mínimo, algo desesperado diante do fim cada vez mais próximo.

O fim pode ser entendido como mero detalhe natural da vida mas nem por isso capaz de tolher a força e o vigor de encarar os problemas com realismo e fazer todo o possível para resolvê-los.

Para que presta o acomodamento e a desistência de buscas maiores? – essas pessoas pensam.

É mais ou menos o que escritores e roteiristas de cinema conseguem transmitir em algumas de suas obras que incluem velho(a)s incansáveis e batalhadore(a)s, como também podemos observar ao nosso lado, no dia-a-dia.

Não faz sentido perder o ânimo de lutar.

O tempo é curto para uma trajetória longa.

Essa ânsia incontrolável para dominar o tempo sempre motivou os jovens, mas para os velhos ela é ainda mais desesperadora.

Admiráveis velhos que lutam de forma incansável como se não houvesse um fim próximo pela frente e que não “entregam a rapadura”, expressão que usavam quando eram jovens e sabiam que “rapadura é doce mas não é mole não”.

Mas não mais doce do que uma vida plena de realizações até o último dia.


Mário Ribeiro