Júlio César Confunde Capitão - Arthur Lopes Filho

Eram dias que em Roma nada despertava interesse. Nos Jogos um leão de tão velho não conseguiu dar a bocada mortal em um condenado e acabou dele recebendo uma bofetada que lhe sangrou o focinho. O pão distribuído passou a ser o da pior padaria a nominada “Panis Senex”. O dono Marius Paderius havia subornado o Pretor Romano. O povo andava mais que insatisfeito. Julio Cesar continuava em suas Guerras Gálicas e o Senado nada fazia a não ser pronunciar e ouvir longos discursos.

Cícero, notável entre os notáveis, nas sessões elogiava Cesar.

Com a guerra na Gália encerrada, os senadores exigiram que César dispensasse seu exército e retornasse a Roma. Ele se recusou a obedecer e cruzou o Rio Rubicão com suas Legiões e em violação da lei proibitória marchou triunfalmente em Roma e assumiu o comando como um Ditador absoluto.

Se durante um período tudo correu bem, lá pelos Iados de Março em 44 a.C., furiosos senadores, incluindo Brutus, seu filho, com adagas afiadas, descarnaram Cesar. E Marcus Antonius fez seu famoso discurso:

"O nobre Brutus lhes disse que Cesar era ambicioso. Se verdade que o era, a falta era muito grave, e Cesar pagou com a vida, aqui, pelas mãos de Brutus e dos demais. Pois Brutus é um homem honrado, e assim são todos eles; todos homens de honra... Mas, eis aqui um pergaminho com o selo de Cesar. Eu o achei no seu armário. É o seu testamento... Nele, lega a cada romano, a cada homem, individualmente, setenta e cinco dracmas. E não só isso, também vos lega, além disso, os seus locais de passeio, as quintas e os jardins, nesta margem do Tibre."

Isto que é discurso, o povo sabendo que receberia dracmas e locais para passear, não esperou as palavras de Brutus e seus companheiros, que fugiram e foram mortos. 


A vida em Roma não era muito tranqüila. Até o velho leão foi morto e queimado em praça pública, para que todos aprendessem que não se deve frustrar o público nos Jogos. Voltaram os dias que em Roma muita coisa despertava interesse.

Passaram-se 2062 anos na vida do mundo e Roma continua lá, acrescida do Coliseum, para exemplo dos homens. E o nosso Brasil, muitas vezes salvo pelo Carnaval, apesar dos esforços, ainda está boiando em crise financeira. No Senado continuam os discursos, uns longos, outros curtos. Os nossos senadores são mais contidos, com exceção de um ou outro que ali chegou despreparado mercê de uma suplência. Um de tão confuso não entendeu que o pedido era de apenas uma dose de cocaína, fez transportar uma carga muito pesada que foi apreendida em avião que acabou caindo. 


Na Câmara dos Deputados há mais exibidos que para votar invocam tudo, tanto que uma deputada numa situação dessas invocou o brilho do marido que no dia seguinte foi preso pela Polícia Federal. Nessa votação importante outro citou a vovozinha acamada de gripe, mas nunca de ataque de um lobo mau. Mas separados dos exibidos, há parlamentares sérios que se preocupam em resolver os problemas herdados do governo anterior que afirmava que tudo fazia em benefício do povo. 

Pobre povo que acabou por não ter emprego e andar amargurado e triste. Mas alguns parlamentares desvairados ameaçam promover no Brasil uma revolução se um ex-Presidente for condenado por corrupção quando deveriam pedir apuração profunda da verdade. Corrupção deve ser condenada por todos os brasileiros e não acobertada. Os Tribunais de Justiça devem merecer respeito. É o que os seguidores do ex-Presidente não entendem.

Júlio César, morto em idos de 44 a.c., foi considerado como dos maiores comandantes militares da história e fez a guerra na Gália com imenso sucesso.

Em 2018 da Era Cristã, no Brasil, um capitão reformado quer a Presidência da República, confunde Briga de Galo com Guerra de Gália, alega que na Rinha seus galos com afiados esporões foram sempre vencedores. Por isso está credenciado para impor a Ordem no país. O Progresso é secundário. Seus admiradores são os desnorteados adoradores de um Regime em que lutas em Rinhas de Galo são consideradas heróicas e patrióticas. 

Dizem que seguem um novo César e que Gália é a mulher do Galo. Já até acharam um Rubicão, será o Paranoá. Temem muito um senador de apelido Chico Bruto que adora descarnar carneiros. Mas na dúvida, o capitão já fez testamento doando um lote na beira do lago, para que qualquer um ali possa fazer piquenique.

Mas o Carnaval é a esperança, todos somos foliões chamados de “súditos de Momo” e quando passam as festas dos mascarados, nós brasileiros sempre adentramos na batalha contra as crises e voltamos para os problemas do Brasil Real...


Arthur Lopes Filho