![]() |
The Bananas - Paul Gauguin - 1891 |
A bananeira só dá frutos uma vez. Daí a expressão: "fulano é bananeira que já deu cacho".
Vegetal razoavelmente simples, sem a nobreza de uma jabuticabeira ou qualquer árvore de porte, a bananeira, humilde e subalterna, se bem plantada em cova funda, produzirá um belo cacho de frutas, com muitas pencas.
Não tem sementes. As mudas crescem ao redor da planta mãe, dai a necessidade de cova funda. Cortada a primeira e colhidos os frutos, dentro de algum tempo teremos nova planta a produzir. É o ciclo da vida que se repete, perpetuando a espécie. Simples e inteligente. Não requer muitos cuidados. Somente boa terra, bom adubo e limpeza ao redor para afastar fungos e pragas. Frutos deliciosos, fartos e nutritivos. No quesito inteligência para ser comido, a banana é imbatível. Portátil, higiênica e bem embalada. Uma campeã.
Voltemos à comparação com os humanos.
Em tempos de poucas famílias, de famílias múltiplas e de gêneros iguais, de famílias desfeitas e outras modernices que teimam em impingir aos tradicionais, a banana nos fornece um exemplo único. Produz em cachos, tal como os cocos e as uvas.
Comparemos o engaço do cacho aos chefes da família. Pai e mãe, a reunir a seu redor filhos, noras, genros, netos, e bisnetos, para os mais longevos .
Como acontece com as bananas, alguns frutos se deterioram mais rápido. Descartados, significam uma perda, que não chega a significar o fim da família. Com o passar do tempo, os membros da família se reúnem de tempos em tempos em torno de pais e mães. São as bananas ao redor do engaço. Ao morrer um dos primitivos, o cacho passa a perder unidade. Com a morte de pai e mãe, a família não se une mais. Como nas bananas, é hora de descartar o engaço. Não serve para mais nada. É o fim de uma família tradicional, como a conhecemos e igual àquela em que fomos criados.
Pensei muito nesta metáfora, no último episódio de doença pelo qual passei. Durante todo tempo tive ao meu lado o núcleo familiar. Mulher, filhos, netos, sobrinhos, primos e até a única tia que tenho a graça de ainda ter.
A presença de entes queridos ao lado do doente o anima a reagir. Como já disse em escrito anterior, o meu filho é um craque. Senhor de todas as "expertises" para cuidar. Em tempos de famílias estranhas e esdrúxulas é sempre bom pensar como eu. Que bom ter nascido como as bananeiras. Simples, filho de família tradicional, capaz de render bons frutos e poder desfruta-los na necessidade.
Que Deus os mantenha unidos e me proporcione por mais algum tempo o papel de engaço.
Uma Nota:
O mundo de hoje seria uma refeição completa para Nelson Rodrigues. Uma multidão impensável de idiotas. Gente capaz de passar doze horas em um frio polar, espremido numa multidão, à espera de uma bola que desce num trilho, para marcar o início de um novo ano. Multidões espremidas e afanadas na praia de Copacabana à espera da passagem do ano e do show de Anitta (com dois ts). Idem em São Paulo à espera do Latino e seu macaco Twelve.
Em Belo Horizonte, uma multidão em torno da Pampulha, a esperar a chegada de 2018, na beira do Patrimônio Mundial da Unesco mais fedorento que existe. Trata-se do "efeito manada: “Se o vizinho vai e tanbém fulano, sicrano, etc., por que não eu? Um espanto!!!
Urtigão (desde 1943)
Urtigão é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, nascido em Rio Piracicaba em 1943.