A ida de sua casa até o emprego envolve o uso de três ônibus mais um trajeto de dez quarteirões a pé, mas não se importa depois de tantos problemas ao longo da vida pois acha que a questão da sua maratona diária é “café pequeno” na profissão de diarista doméstica.
Dia desses, sentada no banco de um dos ônibus em seu longo trajeto até o serviço, lia notícias e mensagens no seu celular, um aparelho importante para ela que passa o dia inteiro trabalhando.
Não mais que de repente dentro do ônibus aparece um “cara” de barba daquelas mais negras que a asa da graúna e simplesmente lhe diz:
- Passa seu celular!!!
Tomou um susto com a “cara-de-pau” do meliante, mas fazer o quê?
O melhor era mesmo entregar depressa o aparelho para que o problema não se agravasse.
Não era somente ela a vítima, mesmo porque outros barbas negras seguiam em frente entre os bancos dos passageiros seqüestrando os aparelhos de senhoras e senhores que também usavam seus celulares.
Fizeram o ataque com tanta perfeição que o motorista do ônibus, atento ao movimento do trânsito, nem percebeu o que estava acontecendo.
Religiosa como ela só, apenas respirou antes de fazer uma oração e pensar com emoção sobre a situação a que chegamos num mundo sem lei e sem alma, como nos faroestes como viu durante anos no cinema perto de sua casa, hoje infelizmente, uma funerária.
Compraria outro celular barato e continuaria a sua vida como sempre foi, trabalhando com devoção e eficiência para atender aos seus empregadores.
- Afinal, fazer o quê? – e concluiu – não tem jeito mesmo!!!
Mário Ribeiro