A Voz, banquinho, o violão - Crônica "Estado de Minas" - 10/05/2018 - Mário Ribeiro

Precisava chegar a esse ponto?


Aos 86 anos de idade, João Gilberto está em situação de fragilidade física, mental e miserabilidade financeira, agora enfrentando um processo de despejo por pagamentos atrasados.


No auge da carreira, usava uma batida no violão que, na verdade, significava o surgimento da bossa nova na música brasileira.

Até hoje é considerado um “chato de galocha” por suas exigências antes dos shows que apresentava.

Esquecem que ele estava criando um estilo musical que conquistou o mundo, por suas interpretações e resgatando no baú da música brasileira uma série de canções que com ele ganharam nova vida.

Entrava no palco sem alardes, sentava num banquinho e seguia como se estivesse em casa.

Sem desmerecer outros cantores e compositores, a bossa nova pode ser resumida a ele e a Tom Jobim.

Era um tempo em que a música brasileira parecia se recriar a cada novo lançamento. 

Certamente João Gilberto deve estar passando pelo que é chamado “demência senil”, doença comum em pessoas com idade avançada.

Pode ser considerado destino reservado a ele, mas quanto mais a idade avança, com tantas informações disponíveis nos tempos atuais, não é preciso ser especialista para dizer que é assim mesmo.

Fica a imagem de João Gilberto num banquinho, utilizando acordes como somente ele era capaz de fazer para dar nova vida às músicas que cantava.

Mário Ribeiro