Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Mário Quintana
Foi meu erro, gritei de cima dos telhados.
Não consegui me conter.
Grande amor não se ama baixinho quando se tem dezoito anos.
Ela, a bela, havia completado quinze anos. E não estávamos em Verona e nem as famílias eram inimigas, tampouco haveria suicídio para glorificarmos o amor.
E era Carnaval.
Fantasias e máscaras, mas nada impediu que ficássemos juntos. Um olhando para o outro.
Como me conter?
Gritei de cima dos telhados: amor, grande amor. Espantei os passarinhos que em revoada fugiram pelo horizonte.
E passados os dias apareceu outro que nenhum verso sabia fazer, mas dizia que possuía muita riqueza. Oferecia uma carruagem de princesa, ainda que não houvesse castelo de fada.
E ela acabou indo pela planície rasa e conheceu o desamor.
E eu fiquei mudo e não mais gritei de cima dos telhados. Deixei em paz os passarinhos. E nada restou a não ser lembrança de olhares ternos e perdidos carinhos.
Arthur Lopes Filho