Sindemeu – Arthur Lopes Filho

Quem sabe se és constante,
se ainda é meu seu pensamento.

Minh'alma toda devora, 
da saudade agro tormento

Tinha por costume misturar os versos, mas sabia cantar muito bem e o que mais gostava era o Sindemeu. De apelido Cibalena por, quando cantava “Minh'alma toda devora...”, ter sempre arrancado a Dor de Cabeça de todos e até de um cheio de enxaqueca. Sua amada Adelaide muitas vezes deixou pingar xixi na calcinha no trinado dele. Sabia que era para ela o se “és constante”. Depois de muito procurar, ela descobriu que agro e difícil são para os mesmos tormentos. Chorou de emoção.

E assim foram passando os dias, Cibalena no Sindemeu e ela deixando pingos de xixi na virginal calcinha. Ele sem mais o que ao perguntar se “és constante” e ela foi se cansando do cheiro do xixi e que a levava ao cansativo lavar a calcinha em toda manhã. Passou a ser seu agro tormento.

E foi quando chegou na cidade um circo que tinha touradas ao final do espetáculo. E o toureiro vestido de uma roupa de malha toda carmim, toureava novilhas pretas cedidas por fazendeiros em troca de ingressos para a entrada no circo. E uma noite lá se foi Adelaide ver o espetáculo circense e não o Sindemeu de Cibalena.

Quando o toureiro derrubou a novilha preta, ela mijou na calcinha toda, estava perdidamente apaixonada pelo artista de malha carmim. Passadas duas noites, terminado o espetáculo, foram se deitar embaixo das arquibancadas e ela se tornou Adelaide do toureiro.

E enquanto o circo ficou na cidade não mais usou a calcinha que deixara de ser virginal. Até que em outro dia ela foi se encontrar com sua paixão e o circo havia partido de madrugada e o toureiro nem recado deixou para dizer para onde ia.

No seu desespero acabou por revelar que não mais pelo Sindemeu a paixão se tornara pelas touradas de um toureiro vestido de malha carmim que se foi com o circo numa madrugada. E na implacável língua do povo tornou-se Delaide Toureira, seu mais profundo agro tormento.

Cibalena com sua “Minh'alma toda devora...”, ainda continuou a esperar por ela. Mas desesperada em seu agro tormento, embarcou no trem de ferro e foi procurar pouso em cidade distante. E pouco se teve notícias de Delaide Toureira, apenas o boato que se casara com abastado fazendeiro criador de novilhas pretas.

Arthur Lopes Filho