A Criação da Mulher - Arthur Lopes Filho

Deus declarou: “Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda.

Deus criou a mulher com a melhor das intenções, auxiliar o homem e corresponder a ele. Parece que Adão em sua nudez andava muito desleixado, não penteava o cabelo e nem tomava banho.

De longe sentiam a morrinha do seu desleixo, o que muito incomodava o Criador. Mas o que mais acentuou a decisão foi verificar que, quando o Arcanjo Gabriel estava com Adão, acendia sua espada de fogo. Era para queimar o forte odor.

Somente uma mulher para pôr fim a isso.

Como Deus é superior a odores por mais fortes que sejam, chamou Adão e sem preâmbulos lhe disse: -“Deita aí e dorme.

Quando Adão acordou sentiu que lhe estava faltando alguma coisa, mas tudo foi compensado com a visão de uma linda criatura que estava se banhando nas águas sagradas do lago do Paraíso.

Ele se derreteu todo quando ela lhe gritou:

“- Dãozinho vem banhar comigo.”

Ele não titubeou e pulou na água. Ela pegou uns ramos de Melão São Caetano que tinham nascido nas margens e lavou muitas vezes os sobacos e as virilhas dele.

Depois pegou folhas de laranjeiras e passou no corpo dele todo. Por fim passou nele e nela pétalas de rosas vermelhas. Pediu emprestada a espada do Arcanjo Gabriel e aparou os cabelos dele.

O Criador sorriu de alegria. Saíram os dois a passear pelo Paraíso, ele foi mostrar a ela as maravilhas da criação. Voltaram de mãos dadas e em cochichos. Deus não gostou de tanta intimidade e foi logo lhes dizendo:

“- Podem fazer tudo menos provar do fruto da Árvore da Criação”.

Ele prontamente disse sim senhor meu Deus.

Ela perguntou a Adão que fruto é esse?

Ele lhe respondeu “depois eu conto”.

Continuaram passeando em cochichos e de mãos dadas. Foi quando mostrou a ela a chamada Árvore da Criação.

Disse-lhe “- nenhum ser vivo pode comer do seu fruto, somente Ele, o Criador.”

E o tempo foi passando e ela muito asseada levava ele para se banharem no lago e cheirosos andavam pelados pelo Paraíso. Sempre de mãos dadas e aos cochichos.

Mas um dia, sempre há um dia, a convite do Arcanjo ele foi conhecer a nova criação do Senhor, as tamareiras e seu ótimo fruto, a tâmara. E ela saiu a passear sozinha e diante da Árvore da Criação se encontrou com a cobra que lhe ofereceu uma bela fruta. Conversaram durante um largo tempo. O pecado aconteceu quando ela convidou:

“-Dãozinho, vamos ali detrás da moita”.

Foram expulsos do Paraíso.

Deus fez para o homem uma companheira que o auxiliasse, isso até anos anteriores, hoje ai daquele que vier cobrar tal impropério.

Conheço casos de alguns fisicamente mais fracos que apanharam tanto que foram parar no hospital.

Havia uma expressão que dizia:

“- Atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher.”

Hoje todos sabem que a frase teve um complemento: “ Atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher empurrando para a frente o cretino que nada seria sem ela.”

Hoje, uma bela Eva corre o risco se propor para qualquer Adão:

“Dãozinho, vamos ali detrás da moita”, e ter como resposta:

“ Eu não violão, não quero perder meu Tonhão.”

Adão corre risco mais sério se lançar um galanteio para uma Eva, ainda que ela seja desprovida de beleza:

“- Evinha, vamos ali detrás da moita dar uns beijos?”

Isto é assédio sexual sujeito a processo criminal e na Delegacia vai receber bolos de palmatória.

Nos tempos que correm, tenho certeza da realidade: fomos expulsos do Paraíso.



Arthur Lopes Filho