Rua das Flores, Curitiba
Muitos anos atrás eu tive o prazer de conhecer de perto a cidade de Curitiba. Eu já tinha ido fazer algumas reuniões com clientes na “Cidade dos Muitos Pinhais”. Com a proximidade de amigos meu carinho por ela crescia. Kurí tyba sempre foi considerada a cidade "mais Europeia" do Brasil.
Construída por imigrantes vindos da Polônia, Alemanha e Ucrânia. Mulheres altas e elegantes. Homens organizados e temperados. Todos com bons risos contidos, mas sempre presente. Um belo dia visitei uma casa local, fiquei boquiaberto. "Tinha até lareira..." pensei alto. Para um jacú como eu, isso era quase como pousar em outro planeta. Restaurantes de alto nível. Ruas limpas e seguras. Eu estava conquistado. Parecia que meu destino seria morar na "Europa Brazuca".
O plano começou a existir de verdade com a ideia de substituir o gerente regional durante suas férias. Cheguei animado à cidade. O escritório era elegante e eficiente. Pouco papel nas mesas e siesta após o almoço. Tudo funcionava muito bem. Pessoas felizes por todo lado.
Anos depois fiquei sabendo que um “bom" diretor tinham acabado com a tradição da siesta. Com objeto de aumentar a eficiencia. Fiquei triste.
Hoje sabemos e está comprovado que a siesta na verdade faz bem para a saúde, além de aumentar a produtividade dos funcionários. Diretores sempre tentando virar Presidentes...
A experiência foi otima. Adorei. Infelizmente o plano de mudar para lá não se concretizou. Águas passadas não movem moinho... mas algumas águas se mantém em nossa memória para sempre.
Em Curitiba a questão futibolistica aparecia nas conversas de forma tímida. Como são "mais europeus" não vão direto ao assunto. Eu tinha amigos que torciam para o Atlético Paraguaense e outros para o Curitiba. Fiquei na dúvida de qual escolher. Os Curitibanos decididos como sao devem ter pensado: "Esse mineirinho está em cima do muro". Era verdade. De um lado o nome Atlético (mesmo sendo do Parana) me levava para o vermelho/preto, do outro lado as amizades e o sentimento de sofrimento que vinha de parte dos torcedores coxa branca, me fazia simpatizar com o verde/branco.
Minha empreitada pelo Paraná terminou rápido e em fracasso completo. Apesar de ter "dado tudo de si", no final não fui eu o escolhido e minha história com os dois times ficou congelada. Como em uma caminhada no mês de Julho pela Rua das Flores da capital paranaense.
Não me lembro ter visitado a cidade depois destas semanas tão marcantes na minha vida. Porém todo ano quando vamos jogar contra os times de lá, as memórias voltam com força.
Ontem não foi diferente. 14oC em campo e sensação térmica de Zero, típico do final de inverno no Couto Pereira. Entramos em campo com a camisa Preta e Branca. O time do Curitiba branca e listrada na frente. O juizão percebendo o problema disse: "Está confuso. Vamos trocar as camisas?”
Já eram oito e meia da noite de Domingo. As namoradas do Galo ansiosas depois de um longo domingo. Jogo do Galo tem que ser mais cedo reclamam. Se é para ter um domingo de amor, que comece mais cedo. Que tal todo jogo do Galo ser no sábado as oito da manhã?
De qualquer forma estávamos aguardando a decisão das camisas pela TV. Eu acho que dava tempo de trocar rapidamente sem maiores complicações. Mas a ordem que veio da direção do Coxa foi outra. Embirraram. "Não vamos trocar! Somos o mandante!".
Pronto. Ativaram o modo America Mineiro.
O America ou Mequinha era o segundo time de todo atleticano e atleticana. Torcíamos nos sábado a noite para eles ganharem de um 15 de Piracicaba destes da vida. Ou quem sabe empatar e subir de divisão. O Coelho, como é chamado, sempre nos ajuda no campeonato mineiro tirando pontos do Palestra-Itália do Barro Preto. Infelizmente depois do governo dar se graça o novo estádio Independência para eles parece que o America-MG se sentiu mais importante e perdeu a referência do seu tamanho real. Tinha que ajudar. Não complicar. Infelizmente uma birra começou quando ganhamos a libertadores em 2013. O primo Kalil disse que queria fechar a ferradura do estádio. O primo Coelho, de birra, não aceitou a oferta sincera. Para piorar, a obsessessiva Avacoelhada, insistia em não tirar as logomarcas que a Comenbol pedia com carinho para apagarem nos jogos internacionais.
Embirrados para sempre, o America agora sofre as pragas do Egito que rogamos neles. E enquanto não liberarem o Indepa para o Galo, sem custo, irão jogar indefinidamente na 2a divisão.
Ontem foi a crupe curitibana que ficou de birra, e a história do jogo, assim, foi selada antes mesmo do apito do juiz. Como um America do Sul não foram amigos do Galão da Massa. Não trocaram as camisas naquele frio dos infernos. Os deuses estão com o Galo e vocês irão sofrer com as pragas do Faraó Keno e seus seguidores fanáticos.
A bola rolou, ele, o Faraó Keno "The Second", recebeu na esquerda. O King dos Kings, onipotente, não olhou para ninguém. Seus poderes sobrenaturais indicavam que Guga, finalmente sem arco, estaria na entrada da área livre. A bola faraonica do Keno chegou açucarada para Guga, que de primeira, disparou uma bomba em direção ao gol.
Eder Aleixo sorria no banco, vendo seus ensinamentos virarem realidade em mais um time mágico do Galo. Dedelo, amigo e gênio da pequena area, gritou lá do nordeste: "QueQueWilson. Pega essa goleirão...!" O goleirão do Coxa, com seus 47 anos de idade, fechou os olhos, rezou, fez o sinal da cruz e nem viu a bola passar. A bola explodiu no travessão e bateu dentro do gol. Gol de placa. Gol de praga.
Para o Galo nada é simple. E o bandeira lento que só ele, perdeu o lance. Não correu para o centro do campo. O juiz sem entender o tinha acontecido, só ouvia o estrondo que ainda ressoava com a trave balancando. Olhou para os céus e pediu Help ao VAR. O VAR tão pouco conseguiu detectar o chute supersônico. Com os equipamentos chineses da CBF a pintura de gol não foi confirmada. Ponto para Guga, que finalmente sem arco está melhorando. Mais confiante. Parou de tocar bola para trás.
Só o amor constrói.
Prometi não criticar ninguém hoje.
Para sermos campeões não podemos deixar de ganhar dos times que não disputam o título. Esse é nosso mantra até o final.
Depois do chute do Guga o time do Curitiba se perdeu. Jair fazia chover no meio de campo, e o gol estava próximo. A felicidade estava chegando. Em um corner, nosso zagueiro modelo e manequim Igor, subiu no 5o andar e cabeceou. “QueQueWilson” pegou, mas deu rebote. Sasha, nosso centro-avante recuado, ofensivo-defensivo, com classe, mandou a bola para dentro sem piedade.
Não tem mais gol fácil minha gente....
O jogo continuou e poderíamos ter feito ainda mais no primeiro tempo.
O segundo começou com o Curitiba pagando seus pecados, trocaram de camisas. Deixaram as birras e pragas de lado. Pelo resto do campeonato vamos torcer para eles não caírem. Quem sabe pegam uma sul-americana.
Faraó Keno ainda perdeu a cabeça na pequena área errando um gol que ate minha avó faria. E no finalzinho, Savarino sozinho, com “QueQueWilson” correndo de volta para o gol, sem lenço nem documento, preferiu errar o chute e guardar com carinho seu gol para um próximo dia. Que se Deus Sol Rá permitir, será contra o Santos ainda nesta semana.
Correspondente Internacional