Coelhinho Inteligente - Correspondente Internacional

Depois de ter nosso réveillon “confiscado” pelo vírus, o ano se iniciou impiedosamente rápido. Janeiro teve de tudo. Famílias não aguentando a pandemia e viajando. Assumindo os riscos e invadindo as praias. Outros mais cautelosos ficaram em casa firme e forte.

Em meio a boletos de IPVAs e IPTUs vimos Fevereiro chegar em um piscar de olhos. A sexta-feira de Carnaval foi sem blocos de rua e com fantasias nos armários. “Passou como um peido”. Quando vimos já era quarta-feira de cinza. Nem mesmo o ano bissexto fez diminuir a velocidade de Fevereiro.

Com a chegada das águas de Março a percepção mudou. As chuvas molharam os relógios digitais e congelaram as horas. Ouvimos Tom Jobim e Elis milhares de vezes para tentar amenizar... mas foi só "pau e pedra" neste Março de sofrimento. Notícias tristes sobre a pandemia bateram recordes e fizeram tantos sofrerem.

Não tínhamos muito mais esperança até que o dia 1o de Abril apareceu em uma quinta feira. O nome Abril que vem do romano “Aprilis” significa Abertura. Anuncia o início da primavera no hemisfério norte. Com o advento da igreja católica virou também o mês da renovação. O mês da Páscoa. O mês da ressureição.

Com temperaturas amenas e feriado prolongado tivemos a oportunidade de viver um bom dia de Páscoa neste Abril. Vimos pequenas mudanças na atitude das pessoas. Percebemos a volta de velhas práticas que melhoram o astral. Precisamos retornar no tempo mais vezes. Desligar o Instagram. Fechar as portas do mundo digital. Eliminar novas tendências motivadas por filósofos pós modernos digitais de auto-ajuda. Promotores de pseudo-artistas e influencers de redes sociais sem conteúdo.

Felizmente foi assim nesta Páscoa de 2021. Uma Páscoa a moda antiga. O que vimos foram famílias tentando se unir. Pessoas lutando para estarem perto. Queriam um pouco do antigo normal. Escondemos ovos de coelhos (que não botam ovos) pelos cantos dos apartamentos e jardins das casas. Não nos preocupamos muito com a imprevisibilidade do cão maluco que poderia achá-los antes da festa começar. E assim a Páscoa foi um sucesso. 

As crianças que tanto sofreram, muitas vezes sem saber porque, tiveram seu dia. Stellinha, por exemplo, estava linda. De óculos escuros com borda branca justificava o título da "menininha mais linda da Savassi". Em seu bikini rosa no domingo de sol entrava e saía da piscina mil vezes. Falava sem parar com a vovó e contava histórias sobre um tal coelhinho que passou por ali deixando um ovo de chocolate só para ela. Dentro do Ovo uma surpresa: Marshmallow. Que delícia! Invenção criativa da turma da Lalka que neste ano se multiplicou para produzir e entregar amor para todas as gerações do mundo.

Claro que nem todos tiveram a sorte de encontrar Ovos de Chocolate da Lalka no pé da cama. Com a falta de ovos e mercados fechados devido as restrições os pais procuraram soluções criativas. Produziram tradicionais ovos de galinha cozidos pintados com cores leves e alegres. O Arthur ativo e criativo deu sorte também. Encontrou um ovo de plástico debaixo do travesseiro que vira robô e envia músicas alegres para o celular. As mães e os pais enfrentaram o desafio do lockdown com inteligência, carinho e amor. Superaram as dificuldades para manter o Domingo de Páscoa vivo e tradicional. 

Em meio a juízes e prefeitos que não se entenderam no Domingo de Páscoa, as famílias brilharam e mostraram como se faz. Quem sabe não seja a hora dos nossos políticos e judiciário voltar a lembrar o que realmente importa. Eles que gostam de aparecer na mídia sem precisar, escrever teses em alemão para que nenhum brasileiro leia, poderiam deixar um pouco de lado a arrogância intrinca dos seus discursos e por alguns minutos se transformarem em simples mortais. 

Surpreenderem a todos aparecendo sentados modestamente no chão em uma varanda de ardósia vermelha geladinha. Colocar um destes anjinhos no colo e com eles abrir um ovo de Páscoa bem devagarinho. Sentir a alegria surgir e desabrochar no rosto da criança. Rir um pouco. Lembrar que são as crianças que importam. Elas são nosso presente e futuro. E o mais importante. São elas, as crianças que nos fazem felizes, e não o oposto.

Correspondente Internacional