Curiosamente, passei algum tempo da minha juventude dando de ombros para o Roberto, um compositor e cantor que, junto com o Erasmo Carlos, mais tarde tocou o meu coração com várias de suas canções.
Muitas delas são bonitas, mas Emoções é a que mais aprecio, não tanto pela letra, que é bela e significativa, mas pela música que ficaria mais bonita ainda na voz do Frank Sinatra, caso a tivesse gravado, sob a batuta do maestro Nelson Riddle.
Não tenho dúvida de que Elis Regina reabilitou o nosso cantor mais famoso como grande compositor ao gravar “As curvas da estrada de Santos”, num arranjo ousado de Erlon Chaves. Apenas a ela, com a sua coragem de enfrentar os puristas, cabia gravá-lá, numa época em que ninguém da elite da MPB ousou fazer antes.
Isso se deu no momento em que a intelectualidade não só musical, mas em geral, o criticava como um cantor e compositor de músicas cafonas.
Foi então que, com uma interpretação diferente da maneira linear do Roberto Carlos cantar, Elis transformou a suavidade desta canção em curvas explosivas como um furacão que só se permitia à beleza e à extensão de sua voz. Elis brincava com todos os ritmos e estilos como nenhuma outra cantora brasileira conseguiu antes e depois da nossa intérprete maior, com o mesmo vigor, a mesma beleza, a mesma ousadia e a mesma emoção.
Acho que me perdi em devaneios. Afinal, o aniversariante é o “rei” Roberto Carlos, mas não posso deixar de destacar a glória que deve ser para um autor ter a sua a produção lembrada, mesmo que apenas com uma criação, por alguém que também é rainha, com cetro e coroa. Esta realeza, aliás, foi prognosticada logo após o seu nascimento ao ser registrada com o nome de Elis Regina. Aos dois reis da nossa música, sempre darei os meus parabéns.
Leila Mara