Entrei no café. Eram 4 da tarde e queria comer um pão de queijo que só encontro em minha querida cidade natal. Olhei para o lado e avistei um rosto familiar.
Sim era meu melhor amigo da época do 1o grau. Acho que não o encontrava à pelo menos 15 anos.
Ele olhou para mim. Achei que me reconhecera. Fiquei emocionado. Um pouco envergonhado, abanei a mão. Não podia perder a oportunidade.
- Como está?
Meio sem graça ele respondeu.
- Tudo bem.
- Por onde anda?
Perguntei para quebrar o gelo.
- Eu estou vindo do supermercado.
Respondeu ainda mais rápido...
- Quanto tempo!
Eu disparei, já preocupado e cauteloso depois de sua primeira resposta.
- É mesmo.
Ele respondeu olhando para o lado.
Naquele instante me lembrei que tinha sido o grande galã da turma. Popular. Engraçado e espirituoso. Rápido. Jogava bola muito bem. Tinha boas notas e para completar, sua irmã, dois anos mais velha, era a garota mais linda e loira da 8 série. Apesar de não morar longe da escola, o motorista da família o levava e buscava todos os dias na escola.
Na escola estávamos de certa forma ficando próximos. Tínhamos idéias comuns, gostávamos das aulas de ciência e da professora de Português. Um dia para minha surpresa ele me convidou para seu aniversário. Conclusão rápida. Eu tinha virado seu melhor amigo. Sonhei com a festa e imaginava que seria parecido como os meus aniversários. Com muitos parentes. Que chegavam e ficavam a vontade pela casa enquanto eu jogava bola na garagem com os vizinhos. Na sua festa cheguei tímido. Era uma casa com vários andares. E para minha surpresa vi que ele tinha pelo menos uns 30 "melhores amigos" que brincavam na imensa piscina. "Que vida maravilhosa meu amigo tinha", pensei enquanto me escondia perto de uma árvore.
De volta ao futuro ele ainda estava à minha frente. Continuava olhando para o lado não me encarando. Pensei em perguntar qual era sua profissão. Tinha uma empresa? Viajava? Casou? Foi neste momento que me lembrei de um fato que tinha passado despercebido.
Muitos anos atras. Exatamente na última vez que tínhamos encontrado ele estava trabalhando como "Barman" em uma das várias festas que promovemos. Enquanto dançávamos, ríamos e nos divertíamos, ele vendia cerveja e caipirinha na festinha de turma. Era uma festa a fantasia e ele estava sem fantasia. Lembrei de seu rosto. Não era mais alegre. Tinha ficado sério. Parecia pálido e fraco. Infeliz e preocupado.
Hoje, no café, estava vendo exatamente o mesmo rosto. Com olhos distantes pagando seu café pingado.
Olhei para ele mais uma vez e perguntei onde morava. Ele disse que vivia em um pequeno apartamento não muito longe dali. Apertamos as mãos e nos despedimos sem marcar um futuro encontro.
Quem sabe na próxima oportunidade teremos tempo e coragem para conversar e esclarecer o que o imprevisível futuro ofereceu a cada um.
Correspondente Internacional